O Fluminense completa neste domingo, 20 de dezembro, 50 anos da conquista de seu primeiro título brasileiro, a Taça de Prata de 1970. Um campeonato disputado no auge do futebol do país, com os campeões mundiais pela seleção brasileira naquele ano e toda uma rica geração. E em meio a um torneio com Pelé, Rivellino, Tostão, Gerson, Jairzinho e cia., coube a um jogador até então pouco conhecido virar protagonista e herói da histórica conquista: Adalberto Kretzer, o Mickey.

Então com 22 anos, Mickey, que havia chegado ao Flu no ano anterior junto ao Caxias-RS, não apenas foi o autor do gol do título, no empate em 1 a 1 na partida decisiva com o Atlético-MG, no Maracanã, como também fez todos os gols das vitórias do Fluminense nos demais jogos do quadrangular, contra Cruzeiro e Palmeiras, e também o gol da classificação para a fase final, em jogo contra o Athletico-PR. E quase que o destino impediu que Mickey participasse justamente da partida que rendeu o título, contra o Galo.

– Eu tinha sofrido uma contusão contra o Cruzeiro, tinha levado uma pancada forte no joelho e era dúvida para o jogo contra o Atlético-MG. Aí fiquei dia e noite fazendo tratamento. E chegou no dia da final, pude jogar e tive a felicidade de fazer o gol. Não posso esquecer nunca. Ali pude ver a grandeza de um título. Era difícil ganhar. O Fluminense hoje tem quatro títulos. É difícil conseguir.

 
 
 

“Um gesto que só leva paz”, nas palavras de Mickey, mas que também deu muita dor de cabeça ao atacante na época. Naquele período, o Brasil vivia um dos momentos mais duros e repressivos da ditadura militar. Anos de ocorrência de censura a meios de comunicação e atividades artísticas, vigilância constante e perseguição e tortura a opositores. Mickey chegou a ser abordado na rua por um desconhecido que questionou se o gesto – também associado ao movimento hippie – era um protesto contra o governo. Episódio relembrado pelo ex-atacante:

– Eu sofri. Eles (governo) não gostaram muito do gesto. Mas eu tive uma grande vantagem porque na época tinha um Capitão que era do quartel ali da Barão de Mesquita, que era muito meu amigo, que me protegeu. Aí parei um tempo para não haver confusões. Mas esse gesto não era contra a ditadura. Foi criado por um grupo que queria paz e amor. Queria mais alegria, felicidade. A princípio levei uma, como dizem na gíria, “prensa”, mas depois liberou. Até hoje o pessoal me vê e fala “paz e amor”