(Foto: Mailson Santana - FFC)

O jornalista Ricardo Porto, no blog de Juca Kfouri, ironizou algumas declarações do técnico Marcão e publicou um texto criticando a noção de futebol do treinador e do Fluminense atualmente. Intitulado “o não futebol e o detalhe”, Ricardo critica – com um tom de ironia – a grave crise do conceito de futebol, aquele que se preocupa mais em destruir do que construir.

Confira, na íntegra:

 
 
 

“Não futebol” é algo que lembra o esporte inventado pelos ingleses, mas se relaciona mais propriamente com o que era praticado pelos astecas no século XV. De acordo com relatos dos invasores espanhóis, um número razoavelmente grande de nativos corria, sem muita coordenação, de um lado para outro, chutando os crânios de suas vítimas de guerra. Não havia gol ou algo parecido. O objetivo era despedaçar os crânios até que se tornassem farelos.

O Fluminense vem atualizando este método de jogo. Os jogadores nunca buscam o gol. Ao contrário, procuram passar a maior parte do tempo olhando o outro lado tocar a bola e articular jogadas de ataque, enquanto correm alucinadamente para impedir que algo aconteça além disso.  Sua vontade e denodo são admiráveis. Não falta empenho. Atacam a bola moderna com a mesma vontade e habilidade dos astecas a atacar os crânios. Destroem o que encontram pela frente. Não sobra nada.  A não ser quando o adversário consegue, por seu mérito, ou pelo mérito negativo do Fluminense, fazer um gol.

Sim, mérito negativo é um conceito inventado pelo não-treinador Marcão e seu não-assistente, Aílton. Marcão costuma ficar ao lado do campo, em sua área não-técnica, gritando:  – “Boooaa… Vai Fluminenseeeee!”  E se empolga toda vez que um crânio, desculpe, uma jogada é destruída. Esse é o orgasmo do não-futebol de Marcão. Mantém e promove a presença de luminares deste tipo de jogo como Yago Felipe, Martinelli, Caio Paulista – assassinos do futebol-arte, gênios do não-futebol.

A meta do “não futebol” é passar todos os jogos em branco, sem tomar e, muito menos, marcar gols, que é o objetivo máximo do esporte chamado futebol.  No “não futebol”, o zero é o que importa. E quem decide o jogo é uma entidade chamada “detalhe”.  Citado em todas as entrevistas coletivas pós-jogo, mas jamais materializado em treinos ou partidas, o “detalhe” não veste camisa e nunca entra em campo com a equipe. No entanto, de acordo com Marcão, “detalhe” é quem faz a diferença no placar.

– Perdemos no detalhe.
– Ganhamos no detalhe.
– Foi no detalhe, isso decidiu.

Frases que surgem sempre quando Marcão é perguntado sobre os motivos para sua equipe passar cinco, seis partidas sem marcar gols. Ou marcá-los em jogadas bizarras nos minutos derradeiros.  Jornalistas e torcida se perguntam quando esse tal “detalhe” vai dar as caras e, principalmente, quanto ganha por mês.

Trata-se de uma entidade importantíssima. Rivaliza com o Sobrenatural de Almeida, do célebre escritor Nelson Rodrigues, entidade literária, bem-vestida como todo janota tricolor, que sempre aparecia para salvar o Fluminense nos momentos cruciais. A diferença é que o “detalhe” enterra mais do que salva.  O presidente Mário Bittencourt, ao que se sabe, ainda não cogita vender o “detalhe” para a Europa. Por lá, o conceito de não-futebol passa por grave crise. Mas nunca se sabe do que realmente são capazes esses empresários”.