(Foto: Divulgação - Twitter oficial do Fluminense)

Mário Bittencourt concedeu entrevista coletiva de mais de uma hora na última terça-feira, no CT Carlos Castilho. No papo com a imprensa, o presidente do Fluminense falou abordou diversos assuntos, como o momento do clube, patrocínio, finanças, projeções e muito mais. Confira aqui a íntegra:

Balanço das contratações e o que pode vir pela frente

 
 
 

— A gente, nossos diretores Paulo e Fred, fizeram um desenho pra esse ano para nos tornarmos ainda mais competitivos do que fomos em 23. Conquistamos a Libertadores que era um sonho nosso, mas isso nos traz uma responsabilidade de manter o Fluminense disputando grandes títulos em 24. Buscamos o bicampeonato da Libertadores, Recopa, disputa do tricampeonato estadual, Brasileiro, Copa do Brasil. Entendemos que era necessário algumas contratações para ter elenco com mais reposição. Em momento algum afeta nosso planejamento financeiro. O Fluminense é um clube ainda em reconstrução financeira. Há uns cinco anos a situação era muito ruim. Falei isso quando desci do avião na volta do Mundial, que manteremos o pé no chão. Só uma contratação fizemos compra, que foi o Terans. Todos os outros vieram sem custo. Continuamos a dívida do clube com carinho. Os títulos não podem nos fazer trocar os pés pelas mãos. Aumentamos as receitas. Obviamente tivemos premiações importantes em 2023, mas foram utilizadas para pagar elenco, salário, depois de uns 20 e 30 anos ter todas as obrigações trabalhistas em dia com trabalhadores do clube. O título da Libertadores nos deu responsabilidade no campo, mas sem fazer loucuras, pois precisamos seguir com a reconstrução do clube. Acho que até o final de 25, quando termina a minha segunda gestão, deixaremos o clube preparado para o futuro. Com conquistas e do ponto de vista financeiro.

Novas contratações

— Creio que ainda há possibilidade de uma ou duas contratações no início da temporada ou até o meio do ano. Temos cinco competições importantes. Futebol é um baralho que mexe rápido. Podemos ter alguma saída ou lesão. Estamos tendo precaução de ter um elenco maior de reposição que tínhamos no ano passado

Thiago Silva
— Conversamos ao longo dos últimos anos. A última não foi recente. Ele falou que só definiria seu futuro após o término de contrato com o Chelsea. Tenho uma grande relação com ele. É um ídolo da torcida e um grande amigo. Vê nossos jogos, comenta. Temos o sonho. Não vou negar. Se acabar o contrato e tiver a possibilidade, faria todo o caminho para trazê-lo de volta. Nesse momento não tem nada de concreto

Patrocínio master

— Vou pegar uma palavra de uma pessoa que gosto muito, que é a presidente do Palmeiras, a Leila. Outro dia ela disse que a gente tem de tomar cuidado com o que as pessoas falam de valores de mercado. Muitas vezes não passam notícias verdadeiras sobre os valores. Tem muita gente divulgando valor de patrocínio que é de 20, mas dizem que é 60 porque tem bônus. Como em vendas de jogadores, que tem o fixo mais o bônus. Tem gente falando em valor total já incluindo o bônus. O que sai na imprensa não nos importa, pois conhecemos o mercado por dentro. Sabemos quanto as pessoas pagam. As empresas são concorrentes e também se falam. De dez notícias que saíram no início do ano, posso falar que duas são verdade e oito não. Aqui temos uma relação muito boa com os parceiros. E conseguimos credibilidade nas relações. Não é diferente com nosso patrocinador master, que acreditou num momento de dificuldade. Pode ser que continue ou saia. Se continuar, continuará sendo uma relação amistosa e de respeito. Se sair, também. Até porque um dia pode voltar. Nós já dissemos isso ao parceiro que os valores que eram muito bons, hoje estão defasados em relação ao que o mercado está pagando. Não buscaremos valores que o mercado não paga e que o parceiro não possa pagar. Os clubes têm momentos, o do Fluminense é bom, com perspectiva de competições internacionais. Estamos conversando. Entendemos que os valores hoje não condizem com o que o Fluminense merece. Hoje não é um bom valor, mas é um contrato em vigor. Se conseguirmos caminhar para uma renovação, vamos ficar felizes. Estamos sendo procurados por outras empresas desse ramo e de outros. Se trocar, será numa forma amistosa. Quem se disponibilizou a ajudar nos momentos mais difíceis, temos gratidão. Vamos procurar uma readequação do contrato. Se acontecer é bom. Se não acontecer, podemos buscar outro.

Planejamento

— Mescla de jogadores experientes com juventude, até por não sermos os clubes mais abonados do Brasil em termos de receita, temos dificuldade com compra de direitos econômicos. O mercado triplicou, quadruplicou os valores e nós não quadruplicamos nossas receitas. Precisamos ter entendimento e paciência. Apostamos em jogadores grandiosos que talvez não tenham feito um grande ano. Mas também tem exemplos como o do Felipe Melo. Tinha saído do Palmeiras e veio. Vamos apostar na nossa casa e também em jogadores livres. E quando há possibilidade, fazemos como foi o caso do Terans. Não pagamos à vista e também não recebemos à vista de alguns que vendemos. Tem jogador que vendemos em 2020 que recebemos até hoje. O planejamento é feito em cima do que vínhamos fazendo. Jogadores da casa com oportunidades, como o Lucumí, que vem numa condição muito boa, Douglas, Terans. Muitos vêm porque acreditam no projeto. Muitos vieram com propostas maiores de outros clubes. Por jogar a Libertadores, por quererem trabalhar com o Diniz. O caso do Renato Augusto, por exemplo, fechamos em uma hora. Quando ele soube do interesse. Ele tinha interesse de jogar aqui e o Fernando de contar com ele. Mandamos a proposta e ele sequer discutiu. Douglas Costa, Gabriel. Todos. O Fluminense não tem condição de comprar. Em algum momento no ano passado notamos que se tivéssemos reposição talvez tivéssemos condição de brigar pelo Brasileiro também. Nem os que têm muito mais dinheiro que nós conseguem ganhar todas. Ganhamos a mais importante da nossa história até aqui. Notamos que se talvez conseguíssemos ter peças de reposição com experiência, não melhores, mas tínhamos menos experientes, talvez consigamos ganhar mais de um título grandioso. É uma aposta nossa, sem fazer loucura. Há um reajuste na folha, mas dentro das nossas condições, abaixo do que temos de aumento de receita. Até porque temos de pagar dívidas. Não fosse assim, daria até para dobrar a folha. Acreditamos que essa encorpada vai nos credibilizar a ser mais competitivo.

André

— Tivemos uma proposta no meio do ano passado do Liverpool de 30 milhões de euros mais alguns bônus. Dissemos não naquele momento não por questões financeiras, porque tínhamos definido com ele que ele ficaria até o fim do ano. Tínhamos o planejamento de ganhar a Libertadores. Teve outra proposta de um outro clube inglês, abaixo dos 30 milhões. Recusamos por considerar abaixo do valor que merece. A relação com ele e o Carlos Leite segue muito boa. Eles entenderam que a venda tem de ser para um lugar que ele quer ir. Às vezes chega proposta pra um jogador que é boa pro clube e não é boa pro jogador. Tem de fechar o triangulo com todos convergindo. A cabeça do jogador está boa. É o que mais me preocupo. Ele cumpriu o combinado e eu cumpro com o que é combinado. Hoje temos sondagens e a janela fecha daqui a dois dias. Pode chegar proposta nas 48 horas (até esta quinta) que agrade ao clube e ele. E pode a janela fechar, acontecendo uma venda agora para ir no meio do ano. Muitos falaram que eu fui irresponsável financeiramente por recusar. Mas se a gente vende e não ganha a Libertadores, falariam que eu fui irresponsável esportivamente. Fred e Angioni monitoram tudo. Pode chegar uma proposta e ele sair. Pode chegar para ir no meio do ano. Creio que pelo menos até o meio do ano vamos fazer essa venda. Será importante para ele seguir a carreira e para nós também é importante financeiramente fazermos essa venda.

Situação do Diniz com a seleção

— Vou falar sobre o que sei. As outras perguntas têm de ser feitas para a CBF. Acho que se ele ficasse três, quatro, cinco anos, o resultado ia aparecer na Copa. Ele é inteligente. Já estava pensando em maneiras de implementar mais rapidamente. Futebol leva tempo. Conquistamos a Libertadores em 2023, mas ela não começou em 23. Fomos construindo desde 2019. Levou cinco anos. Nós hoje somos líderes do Carioca, com o auxiliar fixo que é o Marcão, que em outras duas vezes nos deixou na Libertadores. Eu não esqueço. Muitos questionam porque temos um auxiliar fixo. Tem uma estrutura aqui dentro. Às vezes vai ganhar e vai perder, mas aqui sabemos o que estamos projetando e construindo. A CBF procurou o Fernando e tivemos a opção de não perder. Naquele momento foi em comum acordo. Não dividia o tempo. Sempre que estava aqui era 100%. Deu para conciliar que eram datas da seleção que não interferia no nosso planejamento. Por isso foi contrato de um ano. Porque depois tinha Copa América e preparação para a Copa do Mundo. Depois chegaria o Ancelotti. E lhe foi ofertado seguir na seleção. Ele recusou. Pois continuaria aqui. Poderia até acontecer, porque a vida é mutável. O que aconteceu no fim do ano passado, foi que por decisão do presidente da CBF, optou por rescindir o contrato e nos comunicou. Agradeceu por termos aceitado, mas a CBF não contava mais com o trabalho do Fernando. Foi o que aconteceu. Sei até aí. O que fez a CBF mudar de ideia, tem de perguntar pra eles. O que não achei que se conectou, foi que em algum momento saiu matéria de não atrapalhar o planejamento do Fluminense. Me questionaram no velório do Zagallo e eu falei que não tinha isso. Em nenhum momento teve situação do Fluminense. Gosto do Dorival e torço por ele e pela seleção. Falando como tricolor: fiquei feliz da vida por ter o Diniz aqui por mais tempo e que a gente ganhe outra Libertadores (risos).

Reposições na zaga pela saída de Nino e no meio com André cobiçado

— Zagueiro o Diniz quer olhar esse início de temporada. Nós temos zagueiro. Temos Manoel, Antonio Carlos, que trouxemos, pois sabíamos da saída do Nino. Marlon, Felipe Melo, David Braz, Luan Freitas e Fernando terminou o ano usando o Thiago na zaga. Ele nos informou que utilizaria mais o Thiago na zaga que no meio. E ele usa o André como zagueiro, já usou o Martinelli. Ele analisa todas as possibilidades pra não contratarmos à toa e ficarmos com um elenco inchado. Nos ajuda muito nesse sentido. Com zagueiro temos de ter um forro maior. Se o André não sai agora, sabem como o Fernando joga nos segundos tempos, com o André na zaga. Em relação a essa posição, vamos esperar mais um pouco, a não ser que surja uma situação espetacular. Sobre o André, o Diniz já vê no elenco o time bem servido. Caso saia, estamos bem servidos em casa. Caso não saia, melhor pra gente que temos o melhor volante do Brasil ainda por mais seis meses (risos)

Jhon Arias

— Saiu em algum lugar que ele recebeu proposta da Rússia e ambos recusaram. Ele e o Fluminense. É verdade. Ele não quis ir pra Rússia e nós também não entendemos que o valor era bom. Não teve nada além disso, nem sondagem. Ele tem um contrato ainda longo conosco e tenho interesse que fique. Já disse a ele e ao representante, que também é muito legal e tem uma ótima relação com a gente. O Arias é muito correto e educado. Ele sempre fala que a gente nunca sabe e é verdade. Nunca sabemos o que pode acontecer. Temos relação boa com os nossos jogadores. Se pensar que um menino da idade do André ficou com a gente pra ganhar a Libertadores e não foi pro Liverpool…

Douglas Costa

— Essas oportunidades. Ele tinha uma proposta muito boa fora do Brasil, de um clube da Turquia. O Fernando já tinha conversado com ele que queria. O Fred já tinha falado que dentro do campo ele era ótimo jogador e também uma grande pessoa fora de campo. A ligação foi assim falando que não tínhamos como pagar o que ele já recebeu na Europa e nos Estados Unidos. Ele topou imediatamente, conversou com Fernando, Paulo e Fred. Eu o conheci pessoalmente hoje. Ele agradeceu a oportunidade de estar aqui. Está encarando o Fluminense como a oportunidade de mostrar o grande jogador que já se provou.

Grama sintética

— A minha posição é sempre contra o gramado sintético por uma questão de motivos. É necessário em algumas situações. Num centro de treinamento em que os campos estejam em recuperação, mas sem colocar em risco a integridade dos jogadores. Tem estudos pros dois lados. Eu defendo pelo princípio do jogo. Futebol sempre foi jogado em grama natural e o gramado sintético muda o jogo. O jogador fica mais lento, a bola prende mais e o quique é diferente, mas rápido. A Fifa aprovou, mas não necessariamente é bom. Você joga 80% no campo natural. Já ouvi de jogador aqui que virou o pé pra bater num lado e a chuteira prendeu a bola pegou no outro. Os times que não têm campo sintético, muitas vezes poupam. Assim, o time que tem campo sintético, muitas vezes pegam outros que estão poupando. Poupamos contra o Palmeiras na véspera da Libertadores. O Flamengo fez o mesmo no ano retrasado também quando estava às vésperas de jogar a Libertadores. Nós usamos o time principal no Santos e no Grêmio. Muitos falam do custo. Amigo. Se tem um clube e não tem condição de manter a grama, então vira uma casa de show. Por que às vezes o time tem que tirar o jogo da sua casa e jogar em outra praça. Isso afeta desportivamente o campeonato e o próprio clube. Tem time que mudou o campo pra jogar com o Grêmio e perdeu. E o Renato falou que se fosse no sintético não teria o Suárez em campo. O Messi assina um contrato nos Estados Unidos exigindo que ele não jogue no sintético. É um outro jogo, um outro futebol. Quem opta, opta pelo lado financeiro. Por que o campo do Beira-Rio é bom? Só joga o Inter. Por que o do Corinthians é bom? Só joga o Corinthians. Quais tem mais dificuldade de tratamento no Brasil? Castelão, porque jogam Fortaleza e Ceará. Maracanã, jogam Fluminense e Flamengo. Aqui o argumento é puramente financeiro. Aí tem de perguntar pra quem tem sintético se vale a pena fazer cinco show ou perder. Se é melhor perder um título e fazer cinco show. Eu prefiro o título. Tem quem prefira fazer cinco show. Na liga inglesa é proibido, a holandesa acabou de proibir. A Fifa não faz Copa em campo sintético. Se é tão mais barato e não é ruim, por que não joga o mundo inteiro na sintética? Por que as melhores ligas do mundo não jogam? Os jogadores não gostam de jogar. Essa não é só uma posição do Fluminense. Mas eu garanto que a maioria dos clubes da Série A é contra. Quando saiu a reportagem lá da gosma no jogo do Palmeiras, recebi mensagens de oito presidentes dizendo: “Olha aí, não dá pra continuar com isso”. Mas isso é coisa pra arbitral. E não podemos ser injustos. Se for proibido, os clubes que têm precisam ter tempo para mudar o campo.

Revitalização das Laranjeiras

— Esse é um ano atípico. Nosso elenco principal ficou de férias após o Mundial. Tirar jogos daqui sem elenco principal, não encontramos investidores. Jogos fora da praça, sempre tem investidor. Eles pagam pelo jogo e ficam com bilheteria. Quando o clube joga fora não tem custo nenhum. O investidor paga a cota e as custas dos dois times. Tem de ser um jogo de apelo. Nós não tivemos investidores e também entendemos que tínhamos de ficar aqui. O Fernando (Diniz) ia voltar. Temos final da Recopa, temos de ir para Quito. Devemos ir dois dias antes do jogo. Esse ano podemos até vender jogos do Brasileiro, mas no Carioca não. Potencial construtivo é algo que estamos tentando ver para a propriedade das Laranjeiras. Lei tem de ser aprovada na Câmara do Rio de Janeiro. O Vasco também tem uma, que não é junta a do Fluminense. Conversei com o Eduardo Paes (prefeito do Rio de Janeiro). Se sair, o dinheiro será utilizado para revitalização das Laranjeiras. Tem de ver até para esses inícios de Estadual podermos fazer esses jogos e até poupar o Maracanã. É algo embrionário, mas não para agora. Se formos aprovados, podemos até conseguir começar a obra agora, mas jogar em 2025 é difícil. Talvez consigamos deixar esse legado pro início de 2026.

Receitas

— Tudo que foi feito até aqui foi fazendo com o que temos de previsão de receitas. Não se faz nada jogando para cima pensando em receitas extraordinárias. Se acontecerem essas receitas extraordinárias, podemos até fazer contratações nesse sentido. Conquistamos o maior título da história do clube e precisamos utilizar isso para seguir arrumando a casa. Nos primeiros cinco anos, conseguimos equilibrar a dívida. Agora temos de começar a matar dívidas. As dificuldades seguem. Tem um mês que quitei a dívida do Independiente Del Valle do Sornoza e Orejuela. Era a última dívida Fifa. Demorei cinco anos para pagar uma dívida de 2017. Conseguimos fazer muita coisa em campo e fora sem aporte financeiro. Temos de começar a dar essa pancada pra matar a dívida. O que não podemos fazer é o que foi feito no passado, de esquecer dívida, de não falar com credor. Sobrevivemos esses cinco anos por não ignorar a dívida. Mantivemos mais ou menos do mesmo tamanho. Resolvemos muita coisa. Precisamos nesses dois anos conseguir alguém que “compre nosso barulho” e preparar o clube para receber dinheiro e fortalecer ainda mais o nosso futebol.

Licitação do Maracanã. Fluminense e Flamengo estão atrás do Vasco

— Gosto muito do Jorge Salgado, um amigo que fiz no futebol. Um gentleman, muito elegante. Ex-presidente do Vasco. Ele falou a parte da proposta que interessa ao Vasco. Não engloba só a questão financeira. A proposta engloba parte financeira e técnica. Fluminense e Flamengo estão seguros da proposta que fizeram. Isso vai ser decidido por uma comissão. Nossa proposta na questão global é mais factível. As receitas do Maracanã são importantes, mas não dizem respeito à sobrevivência diária. O que o Fluminense tem é bilheteria, mas também tem manutenção. Nos últimos anos, Fluminense e Flamengo botaram mais de R$ 100 milhões. Ninguém no Brasil hoje tem a expertise de Fluminense e Flamengo para gerir um estádio que já tomam conta por anos. Os outros também poderão jogar lá, pagando. Nunca foi negado nada por motivos clubísticos e, sim, técnicos. Fluminense e Flamengo, os concessionários, saem de lá. Nesse momento está sendo cuidado. Quando a gente fala que em algum momento não pode jogar lá, nunca é por questão clubística. Seja com quem ficar, não comporta três clubes jogando semanalmente lá.

Meta orçamentária com competições e de vendas

— Teremos reunião de orçamento amanhã (quarta). Em razão da ida ao Mundial, atrasamos um pouquinho. Normalmente fazemos em dezembro. A gente sempre mantém os pés no chão, fazendo estimativa realista do que conquistamos e do que podemos conquistar. Vamos mais ou menos olhar como foram os últimos cinco anos. Ano passado estimamos Copa do Brasil mais longe e ficamos abaixo, estimamos Libertadores mais abaixo e fomos acima. Vamos tentar manter no orçamento, que é uma peça contábil.

Xerém

— Em relação a jogadores, o Fluminense tem de se orgulhar por ter Xerém e ser um dos maiores vendedores do Brasil. O Fluminense se manteve de pé, não só na minha gestão, mas no passado. Se chegou vivo a 2019 é porque teve jogador para vender. Nosso número anual médio é uns 26 milhões de reais. Somos um clube vendedor. Além das grandes vendas, espero também começar a fazer algumas vendas menores, de jogadores que sentimos que não serão absorvidos aqui em cima. Infelizmente, a CBF acabou com o Brasileiro sub-23. Eles jogariam esse campeonato. Temos de começar a criar uma linha aqui, além das grandes vendas, fazermos algumas menores pra esses jogadores que não serão aproveitados, mantendo algum percentual e fazendo esse giro.

Guga

— Não chegou, não houve proposta. Cheguei de viagem, vi a notícia que tinha uma proposta do Feynoord e nós negociando. Às vezes chega proposta por e-mail. Eu tenho duas pessoas, uma secretária, que veem isso. Pedi pra minha secretária por mensagem para ver se tinha. Ela olhou. Não tinha também no spam. Liguei pro Angioni e Fred, nenhum deles tinha recebido. Liguei pro pai do jogador, que também não sabia de nada. Entendi que o representante poderia ter sido procurado. Ele me disse que uma pessoa da Holanda ficou de nos procurar para saber se tínhamos interesse em vender. Ontem um representante procurou para saber se tinha interesse de vender, com um valor até menor do que o que tinha sido divulgado. E falamos que não.

Evolução com BTG na captação de parceiros?

— Nosso projeto é buscar investidor para parte do dinheiro dar uma pancada na dívida e parte no futebol. Para que no futuro sempre possamos investir no futebol. O BTG a conversa e projeto seguem. Tenho tranquilidade disso ser demorado. Quanto mais demorado, maior a construção. Quem saiu correndo atrás da primeira oportunidade, talvez não tenha feito o melhor negócio. Nosso desenho, quando chegar investidor, será diferente do que outros fizeram. Não venderemos o controle do clube. Dá para fazer. Acreditamos que ao longo de 24 essa situação vai estar caminhada, definida, para mudarmos o rumo definitivamente do clube.

Legados

— Gestão não é feita só por mim, mas por muita gente. Legado da base vem de muitos anos. Estamos trabalhando para modernizar. Acho que vamos deixar de legado a convicção no que estamos fazendo. Nenhuma decisão aqui é tomada sem amadurecer. E a questão da austeridade. Um título não destrói o clube no ano seguinte. Tem de haver uma curva de crescimento, mas sem ser desordenada destruindo o clube. Por isso falamos da dívida. De dar uma pancada nela e reduzirmos muito. Terminamos 23 com salário pago, 13º de todos os funcionários. As premiações dos jogadores por títulos da Libertadores, todas pagas. O clube está equilibrado. Queríamos ter é maior fluxo de caixa. Está bem diferente do que era há três anos. O que queremos deixar de legado é o clube estar com dinheiro para investir. Não ter mais a preocupação de dívida que vai estourar. Mas acho que 80%, 90% dos clubes do Brasil vivem isso em relação ao que foi feito no passado. Legado que queremos ter é de austeridade e convicção. Desde o início, confiamos em ter uma comissão técnica permanente, de integração da base com o profissional. Todas as lesões da base e feminino, por exemplo, são tratadas com o Filé em cima. Mesmo com o elenco todo do Mundial em férias, os meninos da casa estão jogando o Carioca bem e estamos na frente.

Fluminense antecipou verba de venda de direitos de Liga? Destino desse dinheiro…

— Essa verba não é antecipação e sim compra de 20% dos direitos televisivos e comerciais dos clubes por 50 anos. Isso é para ser pago em parcelas. O investidor antecipou a primeira parcela por pedido de alguns clubes. O Fluminense recebeu a primeira e tem outras a receber. O Fluminense tem caixa único. Tem centros de resultado diferentes. O dinheiro entrou no caixa do clube e foi utilizado pelo clube. Parte pagou salário, prêmio da Libertadores, dívida, logística do futebol, dia a dia. Tem parte que ainda está no caixa… Se vier investidor para colocar dinheiro novo, aí não. Aí muda. É para pagar dívida e investir no futebol. Ganhamos uma premiação grande de Libertadores. Parte foi para pagar o prêmio e parte ainda está no caixa. Ainda não recebemos o dinheiro do Mundial. Já pagamos toda a logística. Fizeram uma promessa de pagar entre 20 e 25 de janeiro, mas ainda não recebemos.

Rivalidade com o Flamengo

— Não somos uma pedra no sapato do Flamengo. Somos o grande rival do Flamengo desde o primeiro Fla-Flu. E vice-versa. É uma rivalidade bonita e sadia. A diferença nesse momento é a questão do investimento. Eles têm esse investimentos por méritos. Também porque houve um momento em que souberam suportar. Já falei aqui que mirava muito o exemplo do Bandeira, que suportou e entregou um Flamengo mais equilibrado. A história do clássico não é da minha gestão pra cá. Tem os gols do Assis, o do Renato, temos vitórias épicas. Eles têm as suas vitórias também. Dos últimos quatro estaduais, ganharam dois e nós ganhamos dois. Vamos continuar trabalhando, não só em relação ao Flamengo, mas falo em relação a todos os outros grandes do futebol brasileiro, para seguirmos disputando. Temos conquistas nos últimos anos que não são títulos. Com dez participações em Libertadores, temos duas finais. Já éramos um gigante antes mesmo de conquistar. O Estadual também é importante. Temos Estadual, Recopa, que é o primeiro título internacional que vamos disputar na temporada.