Nas três temporadas em que atuou pelo Fluminense, Edinho fez um gol em 163 partidas (Foto: Caio Amy - Photocamera)

Campeão carioca e tetracampeão brasileiro em 2012 com o Fluminense, o volante Edinho concedeu uma entrevista exclusiva ao portal NETFLU e relembrou seus momentos vestindo o manto verde, branco e grená. Além de sua passagem pelo Tricolor, falou sobre sua carreira atual e o que pretende fazer após a aposentadoria. Confira, na íntegra, o bate-papo com o atleta:

NF: Como está sua carreira atualmente?

 
 
 

E: Eu tinha quase um ano de contrato com o Vila, achei melhor rescindir e continuei trabalhando, esperando surgir alguma coisa legal. Apareceram algumas coisas, conversei com a minha família, mas daí apareceu a pandemia e agora tem que aguardar. Tenho feito trabalho por conta própria. Tenho um amigo meu aqui em Araruama, que possui uma academia e ele tem me ajudado nesses treinos.

NF: Muitos torcedores pediam pra você atuar na zaga, entendendo que isso poderia até render vagar na seleção. Qual é o seu pensamento sobre isso?

E: Eu me sinto muito à vontade para poder jogar na zaga e de volante. No início, optaram que eu jogasse na zaga em alguns jogos, mas o Abel chegou e definiu a minha posição como volante. Acabou ficando uma situação meio complicada, ainda mais no Fluminense que só tinha jogador fera. E o jogador que é jogar. Eu sempre respeitei essa situação, a opinião do treinador.

NF: Como era a disputa por posição ali no meio com Diguinho, Valencia, Jean…?

E: Então, a concorrência era muito grande. Tinha que mostrar serviço sempre, mesmo quando sentia dor. Tinha que dar sempre algo a mais. Quem tivesse uma continuidade iria seguir na equipe.

NF: Achava que o torcedor pegava exageradamente no seu pé?

E: Acho que não. A minha posição é complicada. O torcedor quer ter 11 Decos no time, 11 Fred no time. Tem que ter alguém pra fazer o trabalho sujo. Lembro que o Gum e o Leandro Euzébio também tomavam pancada da torcida. Imagine ter Bruno e Carlinhos jogando sempre avançados. A gente ficava bem expostos e, mesmo assim, no caso dos zagueiros, foram campeões sendo a defesa menos vazada. Eu sabia muito bem qual era a minha função. O Deco pedia para eu jogar curto e ficar perto dele, porque se ele perdesse a bola eu poderia recuperar de novo. O torcedor não entende muito isso.

NF: Você tinha o costume de fazer inversões de trivela. Era algo que treinava sempre para se aprimorar ou simplesmente acontecia?

E: Isso acabou virando um vício. Às vezes eu queria tirar isso, usar mais a perna esquerda. Eu sou destro e, às vezes, queria acelerar o jogo e o recurso que me cabia, para não demorar trocando a perna, eram os três dedos. Depois, alguns treinadores chegaram a conversar comigo sobre a situação e eu aprendi a dosar ao longo da carreira.

NF: Nem sempre o jogador tem um bom dia. Eu lembro de um jogo que você estava errando praticamente todos os passes que tentava. O torcedor começou a pegar no seu pé, vaiando. Até que teve um momento em que você acertou um passe de um metro e todos ficaram aplaudindo, gritando “é seleção!”. Você lembra desse jogo em especial?

E: Eu não me lembro muito bem desse jogo (risos). Era normal isso. Mas quando eu estava no Inter, por exemplo, falavam que eu errava muito passe. Depois, divulgaram um scout mostrando que eu era o quarto melhor passador do futebol. Mas o futebol é assim mesmo. O torcedor está ali para o lazer dele, então é normal rolar uma zoada (risos).

NF: Você acha que a exigência para a sua posição aumentou hoje em dia?

E: Acho que é muito mais valorizado do que antes. Tem laterias que sobem o tempo todo. Segundo volante que tem que entrar na área. E tem treinador que bota dos meias, então isso deixa o time bem exposto. Por isso a minha posição é importante. Precisa ter um carregador de piano. Se tiverem 11 jogadores que apenas joguem, vai dar problema.

NF: Você lembra quantos gols marcou pelo Flu? Sentiu falta de ter estufado mais as redes?

E: Eu fiz um gol contra o Figueirense (risos). Na minha carreira eu fiz poucos gols, mas foram importantes. Na minha carreira, poucos treinadores me deixavam avançar muito. Geralmente eu ficava preso com a zaga. Eu sabia da minha importância, não tinha vaidade e tentava ser importante nisso. Eu queria ter uma qualidade do Deco, do Thiago Neves, do Fred, mas não tenho. Tinha que ficar na minha e foi isso que me possibilitou ter sucesso na carreira.

NF: O time de 2012 foi campeão Carioca e Brasileiro, mas ainda assim sofria muito. Acha que aquela equipe tinha margem pra jogar um futebol mais bonito?

E: Tinham muitos jogadores tecnicamente muito bons. Mas tudo vai depender do seu treinador, como ele quer postar a equipe. Os técnicos estudam muito a equipe adversário. O Flamengo atual faz muito isso, mantendo a intensidade. Mas acho que a gente tinha qualidade para reter mais a bola. Poderia jogar melhor, mas fomos muito eficientes.

NF: Como era sua relação com Abel Braga?

E: Foi um cara muito importante na minha vida. Lembro que na época do Inter o torcedor pegava no meu pé e ele me deixou no banco nos jogos em casa e me escalava fora. Ele é um cara inacreditável. Ele tinha 33 jogadores no elenco do Flu com possibilidade de jogar e só 11 entravam em campo. E ele conseguia manter todo mundo motivado, todo mundo jogando pelo grupo. É um dos maiores treinadores do futebol brasileiro.

NF: Acha que o torcedor não valoriza da forma como poderia ter valorizado, tanto você, os zagueiros campeões brasileiros e o técnico Abel Braga?

E: Eu super normal o torcedor ficar assim. Quando você joga num clube como um Fluminense, ele quer ganhar até par ou ímpar. O torcedor é assim, é normal. Na hora a gente ficava puto, mas depois a gente conversa entre a gente. Não pode num ano a gente ser campeão e no outro ter campanha pífia. Torcedor é paixão, mas também é razão. Ele acompanha futebol direto, sabe quando as coisas podem melhorar, sabe quando o jogador da migué. A arquibancada não é burra. A gente teve problemas quando o Fred se machucou, perdemos a nossa referência em 2013, por exemplo. Faz parte. Demorou pra cair a ficha, mas a gente se manteve de pé. Me sinto um privilegiado de ter jogado no Fluminense pela história da família. Tivemos conquistas grandes com o Fluminense. Lembro de um jogo que teve pancadaria, em 2011, contra o Argentinos Jrs. Se você pegar a jogada, eu saio a arrastando a bola 100 metro e o pênalti foi em cima de mim. Eu me sinto muito honrado por isso. Esse jogo foi incrível. Até hoje os torcedores me cumprimentam quando me encontram. É gratificante demais.

NF: Você se imagina voltando ao Flu no futuro, seja como treinador, auxiliar…

E: Seria uma honra muito grande. Mas ainda estou jogando, pensando em ir para a zaga mesmo. Quero roer o osso mais um pouco. Mudei a minha vida há dois anos e meio, focado na minha família, entreguei-me a Deus. Depois que terminar a carreira, vou estudar, quero continuar dentro do futebol e seria uma honra indescritível trabalhar no Fluminense.

NF: Então você pensa em se manter no futebol?

E: Claro. Vou me preparar. Eu sou um cara muito querido no meio, por onde eu passei. E me orgulho disso. Espero seguir.

NF: Recado para a torcida do Fluminense

E: Eu queria agradecer o torcedor, dizer que acompanho o clube. Sou admirador do Fluminense, paro com o meu pai para assistir os jogos e tomara a Deus que no futuro a gente possa se encontrar de novo.

NF: Possibilidade da volta de Fred

E: Seria um sonho. Esse cara é surreal, é inacreditável. Você vai conversar com o cara do campo, que corta a grama ao presidente e todo mundo gosta dele. Ele é um líder nato. Eu peço a Deus para que ele possa voltar ao Fluminense e dar alegrias demais para gente.

NF: Você comemoraria um gol contra o Fluminense?

E: Cara, eu vou te falar (risos) é uma situação tão difícil de acontecer e você quer me privar de comemorar ? (risos) Se eu fizer um gol, eu não sei se vou dar soco no ar, se vou pular, mas é tão raro, que eu tenho que comemorar mesmo, até se for contra o Fluminense (risos).

NF: Projeto social em Araruama

E: A gente tem feito uma ação muito grande em Araruama, conseguimos três toneladas de alimentos. No início segurei a bronca sozinho, mas depois contei com algumas pessoas. Vou fazer uma rifa com três camisas de goleiro: Cavalieri, Rogério Ceni e Marcão (Palmeiras). E tudo o que for arrecadado, vamos comprar alimentos para distribuir. Custa 20 reais. Sei que o momento é complicado, tem pessoas se matando porque parou de entrar dinheiro. Então se eu posso ajudar, eu vou ajudar. A ideia é continua a fazer isso mesmo após a pandemia. Espero que comprem as rifas para que a gente possa seguir ajudando e fazendo o bem. É uma gotinha de água no meio do oceano, mas se todo mundo fizer um pouquinho, vai dar certo. Presto conta das coisas lá no meu Instagram também.