Mais que três pontos

Meu filho tem um grupo de whatsapp com amigos do colégio em que o assunto é Fluminense. Na quinta ele me pediu pra fazer uma reunião do grupo lá em casa pra ver o Fla-Flu.

 
 
 

Ponderei que era melhor fazer num jogo mais tranquilo, que o Flu estava muito desfalcado, e que contra o Flamengo seria muito difícil.

Nada os demoveu. Já tinham combinado tudo.

Chegando lá em casa, lá fui eu de novo dizendo pra molecada ( na faixa ali dos 11-12 anos) que ia ser complicado, até tomar a primeira aula da noite. Aula sobre um modelo que conheço, entendo, me identifico e que defendo com unhas e dentes.

– Relaxa tio, aqui é Diniz, “vamu” amassar eles.

Eu ri por um segundo, e depois parei pra refletir sobre essa frase. Em como ela é empoderadora, mais que isso, reveladora.

Esses moleques estão cagando se do outro lado tem um clube rico, que briga por títulos todo ano, com uma penca de jogadores muito melhores que os nossos.

Pra eles, e boa parte da torcida, nada disso importa porque nós vamos amassar eles.

Vocês entenderam por que a gente precisa defender esse trabalho?

Esse modelo, essa coragem pra jogar futebol, entrar e sair de campo com a cabeça erguida, olhando qualquer um de frente, desfrutando do Fluminense é o que de melhor aconteceu no clube nos últimos anos.

Há quanto tempo não desfrutamos do Fluminense? Há quanto tempo não nos sentimos ansiosos pro próximo jogo?

De fato, eles tinham razão, a gente amassou os caras. 59% por cento de posse de bola, 18 finalizações, toca, recebe, gira, volta, corre pra receber de novo e põe na roda. Sem 4 titulares e com o Pedro fora.

Cada saída de bola certa, cada jogada construída, cada gol perdido, cada arrancada do João, do Marcos, do Caio, cada giro do Allan, cada toque do Ganso e do Daniel, tudo era motivo de vibração e alegria. Esse Fluminense encanta, diverte, emociona.

Pouco tempo depois do fim da partida, meu genro (24 anos) chega do Maracanã absolutamente entusiasmado, pra comer um resto de pizza (já gelada) comigo, que não consigo (por nervoso) comer vendo o jogo:

– Tio, esse time é foda.

O resumo do jogo é a cera do Diego Alves. O post sobre o jogo poderia ser uma única linha: Diego Alves fazia cera pro jogo acabar. Bastava isso pra todos saberem quem foi melhor e mereceu a vitória.

Ainda sobre o modelo, essa passagem consta do livro “A Escola Europeia”, no capítulo que fala sobre a história recente do PSG.

O anseio dos catarenses do QSI (os compradores do PSG) é que o PSG seja o patrono das artes (de novo a visão de futebol como arte), dignos de Paris, a capital espiritual da Europa, lar da burguesia, da arte, da moda, da culinária e do bem viver.

Em 2017, o PSG enfrentou na Liga dos Campeões o Barcelona (esse sim no topo do futebol mundial) e a eliminação foi especialmente dolorosa. Depois do jogo final (6 a 1 Barcelona com 71% de posse de bola), o gestor da QSI Nasser Al-Khelaif disse que a eliminação não desgostou tanto os parisienses quanto o seu desempenho.

Incluiu nessa análise o primeiro jogo, no qual o PSG venceu por 4 a 0, afirmando que esperava que o PSG conseguisse jogar como grande clube, mas que não conseguiu. Na frente de patrocinadores e convidados VIP, todos assistiram o Barcelona finalizar o jogo com 57% de posse de bola e isso os decepcionou (apesar dos 4 a 0).

Concluíram ao escolher o modelo, que embora o futebol de posse de bola não necessariamente seja garantia de vitória, esse mantém uma aura de elitismo. É uma abordagem proativa do jogo que diferencia os grandes clubes dos menores; aqueles que propõem o jogo ao adversário, dos que resistem o quanto podem.

Reparem nas palavras acima: elitismo, protagonismo, proatividade, tudo o que diferencia o grande do pequeno.

No fim da noite, ainda recebi a ligação do meu pai (todo jogo tem essa resenha). Meu pai (74 anos) não ia ao Maracanã há mais de 20 anos quando o levei pra ver o jogo contra o Nacional. Meu pai que viu tanta coisa boa, está absolutamente apaixonado por esse time.

3 gerações de tricolores. Todos eles, mesmo sem a vitória, terminaram a sua noite felizes e envolvidos, cada vez mais, com o clube.

Quem disse que o Fluminense não ganhou ontem?

Tabelinha

– Parabéns ao Mário e ao Celso pela vitória nas eleições. A partir de hoje o sucesso de vocês é o sucesso do Fluminense.

– Não gostei da primeira declaração do Celso sobre o Fernando Diniz. Gustavo, provavelmente amanhã, entrará no assunto por aqui. Celso, antes de qualquer cobrança, precisa dar condições de trabalho ao departamento de futebol que, com os recursos que possui e no ambiente em que está inserido, faz um trabalho muito digno.

– Recado aos jogadores que estão jogando e se entregando com salários atrasados: Vocês são foda, estamos com vocês.