“A meu juízo, Mário é a grande ameaça ao futuro do Fluminense e hoje o provável vencedor das eleições”, escreveu o ex-vice médico do Tricolor, Sérgio Galvão, num grupo de Whatsapp fechado denominado “Frente Ampla Tricolor”. A frase, em si, partindo o diretor executivo da Bradesco Saúde, responsável pela articulação que juntou o “Unido e Forte” e a Flusócio, nas últimas eleições, não chega a ser nenhuma novidade. Ainda na gestão Peter Siemsen, uma desavença com Mário Bittencourt. Mas em qual parte Tenório entraria na história? Amigo de longa data do empresário, Sérgio Galvão o encontrou algumas vezes, quando Tenório ainda era do Triunvirato. Nessas reuniões particulares, acumulou conversas tentando convencê-lo de uma candidatura à parte, o que veio a acontecer depois. Sempre aberto ao diálogo, Tenório também manteve abertura com outras lideranças.

No início do mês de abril houve uma reunião entre o Triunvirato e os correligionários, onde ficou decidido quem seria o cabeça de chave. Nesse encontro foram debatidos exaustivamente os números de uma pesquisa, encomendada pela futura chapa “Tantas vezes campeão”, com sócios do Fluminense. Os resultados apontavam Mário e Celso muito acima de Tenório, o que descartou para o grupo a chance de ele vir como presidente. Mas Tenório não aceitou, por entender que este seria o seu momento de se lançar como candidato e questionar, segundo ele mesmo disse, a metodologia utilizada. Um dia depois da assembleia interna com apoiadores do Triunvirato, Tenório lançou um comunicado se desligando da trinca. Na véspera, contudo, ele novamente tinha se encontrado com Galvão, comunicando-o sobre de seus planos.

 
 
 

– Conheço o Tenório há pelo menos 15 anos, é um amigo, pessoal que eu tenho um enorme carinho. A gente tem uma relação pessoal, não é pontual. Ele nos procurou, dizendo que estava muito desconfortável no Triunvirato. E eu acho que o Mário seria extremamente danoso ao Fluminense. Falta a ele capacidade de gestão e união, é personalista e ele acha que sabe tudo. Isso a meu juízo é muito ruim para o Fluminense. Tenório me procurou e eu disse a ele que ele era uma pessoa que pode unir o clube. Acho que seria uma pessoa que juntaria em volta dele cabeças para fazer o clube mudar. O personalismo é o grande problema do Tricolor. Foi assim com o Peter e o Abad. conversamos algumas vezes e ele tomou a decisão de sair do Triunvirato. Nos reunimos algumas vezes antes da decisão dele e ele me comunicou que tomaria essa decisão. O que eu disse nesse grupo fechado é fato. A eleição estaria resolvida se estivessem quatro candidatos, além do Mário, a união fica mais difícil e a eleição fica ganha pelo Mário. Tenório tem uma chance muito grande, não sei se influenciei, mas disse a minha opinião – disse Sérgio Galvão, em entrevista ao NETFLU.

O bate papo demorado que tiveram antes de Tenório fechar a “carta de dispensa” envolvia, dentre outras coisas, a ideia de uma união de todos os grupos possíveis contra a Chapa do ex-vice de futebol, Mário Bittencourt. Em conversa com o NETFLU na semana passada, no lançamento de sua pré-candidatura, Ricardo Tenório afirmou não conhecer o Frente Ampla Tricolor, de Sérgio Galvão e outros nomes que também faziam parte do “Unido e Forte”. Entretanto, ele fez questão de ressaltar a importância da comunicação no processo político de um clube do tamanho do Tricolor.

– Não tem esse tipo de conversa para unificar a chapa. Não conheço o Frente Ampla, embora conheça algumas pessoas que você citou que fazem parte do grupo. Eu estou conversando com tricolores, todas as linhas que querem ajudar o Fluminense, mas sem esse ranço. A discussão pra mim prioritária é o Fluminense – comentou.

Mesmo antes de sua saída controversa do Triunvirato, Tenório também manteve conversas com outro amigo conhecido, o presidente do Conselho Deliberativo (CDel), Fernando César Leite. Advogado de Tenório num acidente de trânsito, o mandatário do CDel não esconde simpatia pelo empresário. Admitindo que votará nele, Fernando rechaçou que haja qualquer conflito de interesses em sua postura com relação ao processo eleitoral que vai comandar no Fluminense.

– Dos candidatos todos, em quem eu vou votar é o Tenório. Não significa que eu vou fazer alguma coisa para dar vantagem para A ou B. Eu vou fazer o quê? Não vou me manifestar em quem vou votar? – questionou.

O presidente do Conselho esteve presente em algumas reuniões com players políticos do Fluminense. No dia 24 de abril, por exemplo, confirmou presença em encontro do Frente Ampla Tricolor no Flexcenter, no Largo Machado. A ideia era debater a conjuntura política e as alternativas de participação do grupo. O NETFLU teve acesso a lista de algumas das pessoas que compareceriam e, nela estava o nome do mandatário do CDel.

– Eu não posso participar do pleito? Até eu posso ser candidato no dia 30. Nego está fazendo tempestade em copo d’água nessas eleições – concluiu Fernando César em resposta ao site número 1 da torcida tricolor.

Assim como Fernando César, Ricardo Tenório e Sergio Galvão também encararam com naturalidade o posicionamento e participação de Fernando César Leite em todo o processo político do Fluminense.

– O Fernando César é sócio do Fluminense como eu sou sócio do Fluminense. Frequenta as Laranjeiras como eu frequento as Laranjeiras. Não tem nada a ver uma coisa com a outra (conflito de interesses), mas de qualquer forma ele é institucional. A conversa é ótima. Ele advogou só uma pra mim por conta de um acidente de trânsito – disse Tenório, endossado por Galvão:

– Não entendo assim, como conflito de interesses. Acho até que o Fernando apoia o Tenório. Isso faz parte. Normalmente, o presidente do Conselho tem o nome dele. Faz parte do jogo.

Apesar de discordar de Mário Bittencourt e destacar o desejo de união contra a chapa do ex-advogado do clube das Laranjeiras, o ex-vice médico salientou que fala por si, até o momento. Segundo ele, muitas conversas ainda estão para acontecer, que podem definir parte do futuro do Fluminense.

– Eu não falo pelo grupo (Frente Ampla Tricolor), até porque não participo tão ativamente. O meu sentimento é que todos os grupos que acham, como eu, que o Mário é personalista, vão se juntar ao redor de uma candidatura, que hoje me parece ser a do Tenório. Isso está caminhando para acontecer no meu entendimento: vai ser o Mário versus o anti-Mário – finalizou.