Nunca fui muito adepto dessa história de “Time de Guerreiros”. Primeiro, por achar que correr até o último segundo em busca de um resultado é obrigação de qualquer jogador profissional. Depois, por desconfiar de times que transformam qualquer vitória numa batalha épica. Quando o vento sopra a favor, o resultado pode até aparecer, mesmo diante de um adversário mais poderoso. Mas nenhuma equipe consegue jogar no limite o tempo todo. E nem sempre enfrentará uma equipe pouco inspirada. Raça e determinação podem ganhar um jogo ou outro. Técnica e qualidade, felizmente, ganham campeonatos.

 
 
 

Faço toda esta reflexão para tentar entender como um time pode passar por uma transformação tão grande num intervalo tão curto. O Fluminense conformado, acovardado e apático que perdeu para o Ceará, lanterna do Brasileiro, no último sábado, nem parecia o mesmo time que menos de 72 horas antes derrotara o Palmeiras e saíra de campo ovacionado pelos torcedores. Não custa lembrar que o Ceará passou as 12 primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro sem ganhar de ninguém. Até sábado, tinha apenas uma vitória (sobre o Sport) em 15 jogos. Isso diz muita coisa. Pois o Fluminense conseguiu perder para o Ceará. Mais do que perder, foi amplamente dominado pelo adversário e a derrota pelo placar mínimo acabou sendo generosa.

O time de 2012 foi o último digno da grandeza do clube. Também era rotulado de “guerreiro”. Também venceu jogos depois de ser dominado pelo adversário e acabou campeão brasileiro. Mas aquele time não era apenas aguerrido. Tinha talento, tinha qualidade, experiência e, sobretudo, personalidade. Tinha Cavalieri vivendo uma temporada iluminada e um tal de Fred, que, além de gols decisivos, fazia o trabalho dos dirigentes e da comissão técnica, cobrando dos companheiros uma postura vencedora.

O Fluminense atual tem um grande artilheiro, que vive um momento especial, mas está apenas engatinhando como profissional. Tecnicamente, pouca coisa se salva na equipe, além de Pedro. Guerrear passou a ser, portanto, o único recurso do time. Pode dar certo em algumas rodadas – certamente dará, porque ao menos metade dos participantes deste Brasileiro são candidatos a rebaixamento. Mas até quando a torcida estará condenada a comemorar vitórias efêmeras, quase sempre seguidas de grandes vexames? Até quando estará condenada a conviver com a segunda divisão da Série A?

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Mais vexatória do que a derrota em Fortaleza só mesmo a notificação da Autoridade Pública de Governança do Futebol, que ameaça excluir alguns clubes do Profut, entre eles o Fluminense, por descumprir as regras do programa. Mesmo com a venda de algumas promessas e a opção por contratações medíocres para reduzir a folha de pagamento, o clube acumulou um prejuízo de R$ 68 milhões em 2017. E ainda há quem chame isso de gestão responsável.