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A gente acorda, vê a luz e caminha através dela em busca de um sonho. Cada conquista, cada vitória, um sorriso e gratidão. Hoje, fez-se escuridão.

 
 
 

Entre as selfies de expectativa e ansiedade antes do jogo e a agonia das informações desencontradas na TV, rádio e internet, levantamos voo angustiante até o desconhecido.

Acordar pela madrugada e esbarrar num pesadelo real, sentindo-o tão perto como o travesseiro que lhe abraça, é perceber nossa fragilidade. A dor nunca esteve tão próxima de nós, mesmo a quilômetros de distância da tragédia.

Dez, cem, mil vezes melhor era o incômodo com o fato de jamais ter vencido a Chapecoense em Campeonatos Brasileiros. Que a escrita se perpetuasse por décadas em troca de cada vida perdida. Nada faz sentido.

A lamentar ainda todo o corpo de imprensa presente no avião, sobretudo os companheiros mais próximos como Victorino Chermont e Paulo Julio Clemant, da Fox Sports, sempre solícitos. Feito um beija-flor, a sanidade parou no ar.

Sim, estamos loucos porque poderia ter sido eu, você, teu filho, nossos pais, o Fluminense, nossa história. Estamos zonzos porque sabemos que só imaginar o sofrimento já corrói nosso peito, mesmo aparentemente livres da queda. Estamos em choque coletivo.

A vitória da Chapecoense seria a nossa vitória diária. Um estudante humilde que consegue pelo próprio esforço a entrada na faculdade ou um apaixonado que conquista a menina mais bonita da classe, surpreendendo a todos. O time era a projeção dos desejos da maioria dos brasileiros.

Dos rótulos, dos clichês, o caminho é sem volta. Quem se foi, morreu herói antes que o destino se encarregasse de oferecer tempo o bastante para que tivessem a possibilidade de virarem vilões. Estão eternizados em nossas memórias.

Mas a vida não segue linear. Dos rascunhos, uma linha reta, uma curva, sabe-se lá qual rabisco até a tal colisão com o solo. Nós caímos naquele avião. Nós morremos ali. E ressuscitamos um pouco a cada um dos cinco sobreviventes anunciados, como se estes fossem um novo voo de nossas esperanças.

Descansem em paz.


Vídeo da festa dos jogadores, após classificação para a final da Copa Sul-Americana.