O passado explica o presente

Nobres tricolores,

 
 
 

após dois podcasts, de volta ao blog para um textão. Mas o papo hoje não é comigo. Abro espaço para Caio Barbosa, meu camarada, e um dos melhores jornalistas do Rio de Janeiro, com quem tive a honra de dividir uma redação. Em meados dos anos 2000 o conheci quando passei a integrar o quadro de funcionários do Diário Lance. Um apaixonado pelo Fluminense. O louco mais sensato que conheci no meio e que cobriu o Tricolor em diversas oportunidades.

Autor de vários furos de reportagem, foi o cara que bancou a permanência de Muricy Ramalho no Flu em 2010, quando a imprensa inteira cravava sua ida para a seleção brasileira. Esse conhece o nosso amado clube como poucos.

Na noite do último domingo, popular ontem, publicou o texto abaixo sobre o Fluminense, o momento que atravessa, dentro e fora de campo. Recorreu ao passado para explicar o presente. Um aviso aos que tem aversão à leitura: é longo. Vai demandar um tempinho, mas se quer entender um pouquinho do que ocorre, vai valer a pena.

Segue abaixo a postagem, com a devida permissão do autor:

 

“Aos que me pedem alguns comentários sobre o Fluminense, eu, com profunda tristeza, o farei apenas por lembrar que os seguidores aqui são bem mais do que em 2010/2011. Então, farei um breve resumo, que começa na permanência do Muricy no clube, em 2010. Nada do que escreverei aqui é novidade. Tudo foi publicado no Extra e aqui mesmo, no FB.

O Extra foi o único veículo de comunicação do planeta que não deu que Muricy iria para a seleção. Os chefes, assustados, decidiram apostar no repórter que insistia que todos os outros veículos estavam equivocados, que os plantões da Rede Globo estavam equivocados, e que o técnico ficaria no Fluminense. Foi o que aconteceu.

Eu cobria o Flamengo naquele ano, e estava bem ocupado denunciando os escândalos administrativos da Era Zico como diretor de futebol. Denunciamos todos e o Zico pediu as contas de madrugada, via SMS, o que também foi divulgado unicamente pelo Extra. Mas isto é um caso à parte. Com um olho no Fla, outro no Flu, enquanto os tricolores esperneavam contra a CBF que, segundo eles, “queria tirar o Muricy para dar o título ao Corinthians’, o repórter foi atrás da história.

Muricy foi se encontrar com Ricardo Teixeira num clube de golfe, o que foi divulgado em primeira mão pela ESPN, mas odiou o papo com o capo. Arrogantemente, como de hábito, Teixeira achava que Muricy deveria aceitar ir para a seleção como obrigação profissional, pouco importando o salário e as condições. Nada do que Muricy havia pedido foi aceito. E o salário era quase o mesmo que ele recebia no Flu, não me lembro se R$ 50 mil a mais ou a menos do que os R$ 350 mil que ele ganhava.

Muricy recusou e procurou o Fluminense, que armou uma cena para proteger o treinador e dizer que não o liberava naquele momento, evitando desgastá-lo com Teixeira. O técnico, no entanto, procurou Celso Barros para falar sobre futuro e a importância de um centro de treinamento que permitisse a ele, Muricy, implementar a filosofia herdada de Telê Santana à frente do São Paulo. Celso aumentou o salário de Muricy para R$ 400 mil, que virariam R$ 700 mil caso o time conquistasse o Brasileiro, e garantiu que o Fluminense já tinha um CT, que seria a grande bandeira da gestão Peter Siemsen, e entregue logo no primeiro semestre de 2011.

Eu questionei por que isso não era divulgado pela campanha de Peter, pois seria, inclusive, uma ótima propaganda eleitoral. Me disseram – e ao Muricy – que não havia necessidade, que a eleição estava ganha e o CT seria anunciado na posse de Peter. Era um argumento razoável, que eu até comprei. Pena que era tudo mentira.

O Fluminense foi campeão brasileiro e o workaholic Muricy foi procurar o Peter para tratar de CT e Libertadores 2011. O presidente, no entanto, desapareceu. Sumiu. Nem mesmo no Footecon, evento mundial realizado após o título, ele apareceu. Só deu as caras na festa que a Unimed ofereceu aos jogadores, pouco antes do Natal, no Itanhangá. Chegou no fim, ficou dez minutos, fugiu de Muricy e Celso, e foi embora.

Canalha como poucos, ele prometia à dupla a permanência de Alcides Antunes, e falava horrores da Flusócio. À Flusócio, prometia a saída de Alcides e falava horrores de Celso. Entre o Natal e o Reveillon de 2010, Muricy conseguiu pela primeira vez falar com Peter, pelo telefone, e o convidou para ir a São Paulo conhecer o CT do São Paulo e iniciar as conversar sobre os reforços para a Libertadores. Peter disse que confiava nele e em Alcides (o oposto do que dizia à Flusócio), fingiu não ter ouvido o convite para conhecer o CT e nunca mais apareceu.

Nos bastidores, Peter e seus asseclas fritavam Alcides, Muricy e Celso em óleo quente. A demissão de Alcides, antecipada por um repórter que estava em Havana, foi das coisas mais patéticas que se têm notícia. Num restaurante italiano de Laranjeiras, Celso estava reunido com os representantes de um jogador (Marquinho, salvo engano), quando Peter ligou com uma coragem incomum dizendo que dispensaria Alcides. Celso não gostou, avisou que Muricy não gostaria, mas disse ao presidente que o fizesse apenas após o Fla-Flu de domingo, pois uma decisão dessas não poderia ser feita antes de um jogo destes.

Peter ignorou o pedido de Celso e convocou sua claque para anunciar a saída de Alcides, no sábado. Enquanto o repórter, de Cuba, avisava que Muricy deixaria o clube, os tricolores da Flusócio se masturbavam com a saída do mais vitorioso dirigente dos últimos 25 anos. Ato-contínuo ao anúncio, os atletas abandonaram a concentração às vésperas do jogo, em solidariedade a Alcides, e foram todos para o sambódromo assistir ao Desfile das Campeãs praguejando o presidente, de quem tinham nojo.

Após o Fla-Flu do dia seguinte, que terminou empatado, Muricy se reuniu com os atletas e pediu que Peter ficasse de fora. O treinador anunciou que estava deixando o clube. Durante o papo, perceberam Peter atrás de uma porta ouvindo a conversa. Alguns jogadores, como Leandro Euzébio, Marquinho, Sheik e Conca partiram para cima do presidente, com xingamentos no último volume. Todos foram colocados na lista negra pessoal do presidente. Armaram para Sheik, armaram para Conca, que deixaram o clube.

Peter, no entanto, não tinha projeto para o clube. Projeto, método, estratégia, nada. Não tinha sequer um nome para assumir o futebol. O que não teve durante toda a gestão. Dando ouvidos apenas a um dirigente-rábula-empresário, não conseguia contratar sequer um substituto para Muricy. Foi atrás de sete. Ouviu sete nãos. Improvisou o dublê de treinador Enderson Moreira, avisando que este guardaria o lugar para Abel, sem avisar isso ao Enderson, e sequer a Abel, que só voltou ao Fluminense graças a Celso Barros, que enviou o então tapa-buraco Sandrão lá para os infernos a fim de conversar com o treinador e preparar o terreno para o que ele teria pela frente, para o lixo de dirigente que ele teria pela frente.

Abel condicionou a vinda, entre outras coisas, à saída de Enderson, de outro preposto colorado que estava colonizando Xerém a mando do dirigente-rábula-empresário. Eliminando os ratos do vestiário, que nunca foram os ratos da entrevista que Muricy nunca deu, chegou ao título de 2012.

O sucesso de Abel, Celso, Sandrão, no entanto, incomodava muita gente que foi colocada para escanteio. E essa turma tem uma sede de poder e dinheiro insaciável. Fortalecidos politicamente por inocentes úteis e outros não tão inocentes assim, muito menos úteis, deu-se a fritura de tudo, acabando com um time campeão, com um patrocínio campeão, com um elenco vencedor e rebaixando o clube, que escapou da segunda divisão graças a Flamengo e Portuguesa.

A segunda gestão vocês lembram, está mais viva na memória. Ainda sem projeto para o futebol e maquiando todas as contas, o time foi arrendado pelo capitão e seu empresário, que passaram a contratar e demitir treinadores e jogadores em parceria com a gente sabe bem quem. Mas até o atacante que jogava a favor em campo (quando entrava) e jogava contra nos bastidores foi passado para trás. E terminamos 2016 sem time, sem técnico, sem patrocinador, sem comissão técnica, sem fornecedor de material, sem dinheiro, sem credibilidade, sem nada.

Ter antecipado tudo isso não me orgulha em nada, apenas me entristece, como torcedor”.

– Se confirmada a venda de Richarlison para a Lazio por 13 milhões de euros, bola dentro!

– Depois de Fred, não faria sentido fortalecer mais um rival nacional

– Mas estava claro, pelo menos para mim, que a venda ocorreria não fosse a decisão dos agentes do jogador em tirá-lo da partida

– Embora atravesse grande momento, não acho uma má ideia a saída de Henrique Dourado

– É o tipo de jogador que se hoje agrada, amanhã vai irritar. A oportunidade bateu à porta.

– Segurem Wendel e Scarpa! Ativos? Não! Grandes jogadores.

 

Um grande abraço e saudações!

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