A dupla Marcão e Aílton, ao optar por montar um meio-campo
com Allan, Daniel e Ganso, resgatam traços do que vinha sendo feito por
Fernando Diniz. Mais harmonioso, o meio ainda contou com os deslocamentos de
Nenê partindo da direita e se juntando aos outros três companheiros. Alguns
conceitos também foram resgatados. Os dois laterais ampliando o campo e subindo
ao mesmo tempo permitiam o Flu estruturar os ataques com até 7 por fora e 3 por
dentro com ampla fluidez posicional.
Isto porque Allan recuava entre os zagueiros Nino e Yuri,
regendo o jogo de frente como melhor sabe, e encontrando Ganso como segundo
homem mais Nenê e Daniel alternando nas funções de terceiro e quarto homem de
meio. O último homem deste setor teria maior incidência para a cria de Xerém
que, mais ágil por ter seu centro de gravidade mais próximo do chão em
comparação com os dois mais experientes, teve mais liberdade para flutuar na
entrelinha e criar mais próximo do gol, como em duas oportunidades em que construiu
finalizações ainda no primeiro tempo, fazendo em uma delas um passe profundo
para Yony González que cruzou e encontrou Nenê para finalizar e abrir o caminho
para a vitória.
Foi um Flu mais disposto a jogar e assumir riscos. Mas que
sofreu naturalmente em alguns momentos de construção curta a partir do tiro de
meta; pelo contexto de trabalho e filosofia interrompidos após a demissão do
primeiro comandante. Isto porque por mais que sejam resgatados traços de
Fernando Diniz, os estímulos diários que influenciavam questões comportamentais
e de decisões com a bola no pé, já não se encontram mais ali.
Obviamente, o passe perde potência, a velocidade no gesto
técnico para recepção da bola, seguido de giro-condução ou passe-infiltração,
são afetados. São fundamentos para o jogar que precisam ser constantemente
alicerçados no dia a dia aos comportamentos dos jogadores.
Logo, observar os 413 passes certos dentro do jogo não basta. A qualidade destes é que importa. As variáveis acima citadas tiveram o acréscimo das dificuldades impostas pelo não tão intenso time reserva do Grêmio; que por mais disposto a marcar desde cima as saídas de tiros de meta do Fluminense – ao ponto de fazer Muriel optar por lançamentos mais longos a partir dos 15 minutos, aproximadamente –, não fez tanta frente por pressionar mais efetivamente a bola quando recuou suas linhas e defendeu a partir do seu campo. A não tão intensa troca de passes do Flu – que poderá ser um problema a ser resolvido para a sequência – conseguiu ensaiar boas construções, consequentemente.
Quando mencionei a fluidez posicional no primeiro parágrafo, quero escancarar a liberdade de movimentação que Ganso, Daniel e Nenê tiveram. Com este último tendo liberdade para atravessar todo o campo, o Flu fez novamente do seu lado esquerdo o setor mais forte e de maior incidência para ações ofensivas.
Agora note nos mapas de calor de Daniel, Ganso e Nenê, ao final do primeiro tempo, como ambos somam pontos de incidência de ações pelo setor esquerdo.
Os maiores problemas a se corrigirem, no entanto, seguem sendo as transições defensivas e os momentos de organização defensiva no próprio campo. Quando agride no campo adversário, existe maior predisposição do time em se comportar melhor coletivamente, ainda que não obtenhamos tantos ganhos nesta faixa de campo.
Mas quando há a necessidade de correr para trás, o setor
direito é o mais exposto; e foi o mais explorado pelo Grêmio em boa parte do
primeiro tempo. Solitário e em declínio técnico e mental, Gilberto foi judiado
até que a sensibilidade da dupla Marcão e Aílton percebesse que a inversão de
lados de Nenê e Yony poderia corrigir alguns problemas. Porque no lado esquerdo
a vitalidade de Daniel e Caio Henrique poderiam suportar a baixa oferta
defensiva de Nenê, e Yony poderia auxiliar Gilberto com mais fôlego. O segundo
gol alimentou a confiança para suportar o adversário – com algum crédito para
Muriel em lance capital.
O ponto ainda é que sacar Gilberto pode controlar o caos do setor direito, mas coletivamente ainda existem problemas. O Grêmio finalizou 11 vezes dentro da nossa área e muitas delas aproveitando o oco no funil (faixa central) gerado pelos deslocamentos de Allan para cobrir Nenê, e a péssima gestão do espaço feito por Ganso e Daniel na retomada. Acima de potencial defensivo de ambos, existe o problema em controlar aquele setor.
Ademais, me sinto no dever de apontar o saldo do comando
técnico interino – que pode ser efetivado. A conferir o que acontecerá. Mas
vamos lá:
– Poderiam ter sacado o Gilberto pra esse jogo, mas
assumiram o risco e deram o voto de confiança. A função de uma comissão também
é acreditar em seu material humano, não os culpo. Mas falhou duas vezes no gol
do Grêmio. Se seguirem no comando, precisam repensar a partir do jogo contra o
Bota. Não só pela falha. É o contexto técnico e mental do atleta;
– Como anteriormente citado, foram cirúrgicos, sensíveis e
acertaram invertendo o lado de Nenê e Yony no 2° tempo. O lado esquerdo tinha
Daniel e Caio H. mais vitais, e Yony na direita supriu algumas deficiências de
Gilberto. Sem matar substituições, tentaram corrigir aquele setor e inibiram um
pouco o Grêmio que vinha fazendo festa por ali;
– Para lançar Orinho eu teria antecipado a saída de Nenê ou sacado
Ganso. Ainda que, no apanhado geral, não achasse útil a entrada do lateral.
Entrou desconcentrado e seu comportamento no lance do gol do Grêmio me trouxe
algumas sensações ruins. Foi traído pela lambança de Gilberto, mas estava mais
preocupado em disparar no corredor antes mesmo do time recuperar a bola
efetivamente, do que proteger o gol. Caio H. ainda tentou compensá-lo na zona
em que a finalização saiu, mas a bola foi no gol.