(Foto: Nelson Perez - FFC)

Após a vitória que salvou o Fluminense do risco de rebaixamento, o técnico Abel disparou: – “Eu iria desmoronar. Se acontece um negócio desse era provável que eu, infelizmente, de uma maneira negativa, acabasse largando. Não sei se iria resistir”.

 
 
 

A brecha para uma conversa sobre a chance de tornar Abel Braga o comandante do departamento de futebol do clube passou despercebida. Não me surpreende. A gestão está mais preocupada com seu ego e com o que pensam as pessoas que a criticam nas redes sociais.

As enquetes on-line deram, em média, 80% pela permanência do treinador. Explicável: Abel é sentido como uma reserva moral do clube, representa o rosto da transparência, sinceridade e, principalmente, aparenta ainda sentir certa gratidão pelo Fluminense que lhe abriu as portas para o futebol, embora tenha esquecido, às vezes, a sua grandeza e tamanho, independente de ter times só de garotos; algo que sempre fez parte das nossas melhores histórias de glórias e títulos.

Abel não se esconde nas derrotas, nas crises, nas dificuldades, como o presidente do clube – que acumula o cargo de vice de futebol, diga-se –  o faz, mesmo devendo ser o primeiro a aparecer e dar a cara à tapa, blindar o ambiente, falar com o torcedor que não se restringe à meia dúzia da torcida organizada “A” ou “B”, porque somos milhões Brasil a fora.

O presidente Pedro Abad deve agir sem temer as mudanças nem esperar que “amiguinhos” do seu grupo “de apoio” gravem áudios no Whatsapp, como crianças, que não são, para pularem do barco.

No entanto, como treinador, Abel caducou. Não ele, mas o futebol como ele vê.

Os pontas viram laterais defensivos; os laterais, defensores, atacam e têm o último passe, o passe mais importante e difícil do futebol, o passe do “camisa 10”.

Douglas vira meia, com Sornoza, o mais talentoso jogador ofensivo do elenco, ficando a 60 metros do ataque, como se fosse o Pirlo e, não, um Del Piero (refiro-me ao posicionamento em campo, usando jogadores italianos).

A Itália não precisou levar de 7 da Alemanha (nem levaria, talvez). Mas a maior referência da geração dos treinadores brasileiros, especialmente, da geração do Abel, está fora da Copa do Mundo, caducada. A tática da segurança defensiva não é mais a italiana e, sim, a da posse de bola, como sempre foi a nossa escola de jogo.

Time de uma nota só. Assim estão os times brasileiros. Mas o Corinthians, Flamengo, Vasco, Palmeiras, São Paulo, os donos da audiência, podem jogar o futebol conservador, “feio”, bastando serem competitivos.

Clubes como o Fluminense, não! Precisam jogar um futebol atraente para não saírem da lista dos protagonistas. Tem sido assim com Atlético-MG, Cruzeiro, Santos, nos últimos anos.

Vencemos dois brasileiros “jogando feio” porque éramos o “azarão”. Quando, em 2013, subimos de patamar para nos firmarmos como protagonistas, Abel não soube armar o time para furar retrancas porque não se fura retrancas com volantes armando e laterais responsáveis pelo último passe e, sim, com Wellington Silva, Sornoza, Scarpa, Thiago Neves, Welington Nem nessas funções. Lembrando que, em 2013, Abel ainda tinha Deco, Felipe, Wagner, Sóbis. Estava repleto de “cascudos”.

Mais uma vez, mais do mesmo, o previsível: bola no lateral, cruzamento para a área. Sem a bola, nove jogadores atrás da sua linha. Contra-ataque por dentro, com um velocista carregador de bola em disparada porque os atacantes de velocidade e os meias (Thiago Neves recuava como Sornoza recua) estão na defesa, marcando e, não, nas costas dos laterais e volantes adversários. Ao menos um deles. Ninguém aguenta correr 80 metros todo lance.

Não é só Abel que joga assim. O futebol brasileiro imitou tanto a retranca italiana e a força física dos alemães e ingleses que se descaracterizou sem ter a mesma anatomia dos europeus. O excesso de preparação física deve explicar também a quantidade de lesões musculares.

Após a atuação desrespeitosa na derrota para o Sport, Abel ainda afirmou que “precisamos de jogadores que saibam duelar”. Arrepiada e de cabelo em pé, fiquei imaginando se Abel se referia a “Jon Snow”, “Ragnar”, “José Aldo”, “Felipe Melo”… se for, farei como o “alegre” Levir Culpi recomendou: prepararei “meus remedinhos”.

Toques rápidos:

– Última rodada: jogo para ver Norton de lateral e Robert. Este joga no espaço da criação. Se deslanchar (o Carioca vem aí), ajudará mais do que se contratarmos “Danilinhos”, “Osvaldos”, “Marquinhos” ou mais volantes para serem armadores.

– O técnico do Corinthians, campeão brasileiro com folgas, considerado nas planilhas e pelos “eXpecialistas” como a quarta força dentre os grandes de São Paulo, ao analisar a barca, afirmou que seu time precisa de 5, 6 reforços. Subiram de patamar. Para subir de patamar, é assim que funciona.

– E o Rodrigo, hein? “Jogador cascudo e com rodagem” como Abel gosta…

– Vivi para ver o Marcos Júnior fazer um gol de bicicleta. Futebol ou é um carrasco ou uma doce mãe.

– Na semana que vem, minha lista com quem eu manteria no clube. Gostaria de saber a sua também. Prepare aí!

Fraternalmente,
ST.