Foto: Lucas Merçon/FFC

No último dia 13 fiz a minha estreia no Raio-x Tricolor após uma das piores partidas da história do Brasileirão por pontos corridos. Naquele fatídico Fluminense x Palmeiras, válido pela segunda rodada do Campeonato Brasileiro, o time comandado por Odair Hellmann apresentou uma infinidade de problemas, desde a escalação até a disposição dos atletas em campo.

Hoje, exatos 14 dias depois e com mais 6 pontos na tabela do Brasileirão, a torcida começa a ver um sinal de evolução. Evolução essa que, além da pontuação, começa a se refletir dentro de campo. E é em cima dessa evolução que vamos ao texto de hoje: o que mudou de lá pra cá no Tricolor das Laranjeiras?

1° ato – A afirmação de Luccas Claro

Por mais que o zagueiro já estivesse em campo desde a primeira rodada do Brasileirão, é inegável que hoje, alguns jogos depois, a torcida do Fluminense vê em Luccas Claro o principal pilar da defesa tricolor.

Analisando os números, percebemos que Luccas Claro é o zagueiro do Fluminense que, em média, mais recupera bolas em 2020. Além disso, atleta de 29 anos tem um rendimento superior a 70% nas disputas de bola aérea, o que traz muita segurança em um aspecto do jogo muito valorizado por Odair Hellmann.

 
 
 

Além das estatísticas frias, analisei em vídeo todas as vezes em que um atacante tentou superar Luccas Claro com uma jogada individual no Brasileirão: das 7 vezes que foi desafiado, em 5 oportunidades (71%) o zagueiro levou a melhor, índices excelentes dentro do futebol brasileiro.

Por mais que não seja um grande craque e ainda esteja em fase de afirmação com a torcida, é inegável que Luccas está na frente pela corrida por uma vaga na zaga tricolor ao lado de Nino.

2° ato – a entrada de Calegari

Por mais que o jovem Lucas Calegari não seja um lateral de origem e esteja em claro processo de adaptação a posição, é inegável que a sua entrada fez o lado direito tricolor ganhar vida. Mesmo não sendo brilhante e ainda pecando no aspecto defensivo, a simples saída de Igor Julião melhorou o rendimento do Fluminense.

Também é justo ressaltar: é notável a evolução de Calegari a cada partida. Em sua estreia como profissional, no amistoso contra o Botafogo, sua atuação foi bem abaixo da crítica. Mesmo enfrentando nomes questionáveis como Guilherme e Danilo Barcelos, o lado direito tricolor foi uma verdadeira mina de ouro para os avanços alvinegros, especialmente no 1° tempo da partida.

Na partida de sábado, contra o Athletico, Calegari conseguiu ser mais firme na marcação e participou mais da construção de jogo ofensiva. Mesmo mostrando alguns claros erros de posicionamento defensivo já foi possível observar uma subida de produção da equipe pelo seu lado.

Já contra o Figueirense podemos fazer uma avaliação bem positiva do jovem. Sem dar espaços na defesa, o jovem apareceu muito mais no campo de ataque e chegou, inclusive, a arriscar de fora da área. Ainda faltam jogadas de ultrapassagem e um pouco de coragem para executar cruzamentos, mas é algo natural para um volante de origem que tem feito seus primeiros jogos como profissional em uma nova posição.

3° ato – Michel Araújo e Nenê em suas melhores funções

Aqui temos a principal (e mais óbvia) mudança feita por Odair Hellmann. Até o intervalo da partida contra o Internacional, tínhamos um Michel Araújo atuando pelo meio, em uma trinca de volantes ao lado de Dodi e Yuri (ou Yago) e Nenê atuando grudado a linha lateral pelo lado direito.

Com essa configuração, víamos um Nenê praticamente inútil dentro de campo, atuando longe da zona de definição e sem velocidade para executar uma transição veloz para a equipe do Fluminense. Além disso, essa disposição colocava Michel Araújo em uma zona do campo povoada e também distante do gol, fazendo com que seus principais predicados fossem subaproveitados: a condução de bola e o arremate de média distância.

No intervalo dessa partida Odair alterou toda a dinâmica da equipe sem sacar nenhum atleta da equipe: colocando Nenê para atuar flutuando atrás de Evanilson e abrindo o uruguaio pelo lado direito, o Fluminense passou a ter o melhor de seus atletas no jogo ofensivo.

Não à toa, a partir dali o Fluminense começou a ter bons momentos no Brasileirão e viu os dois atletas em questão tendo uma subida exponencial de rendimento. Para quem ainda tem dúvidas basta olhar o que aconteceu com o futebol de Nenê nos seus últimos 3 jogos. Além dos gols em arremates de fora da área (contra RB Bragantino e Figueirense), o camisa 77 passou a criar boas chances de gol e, principalmente, liberar a faixa direita do campo para Michel Araújo mostrar todo o seu potencial.

Como nem tudo são flores, ainda podemos questionar se Marcos Paulo está sendo aproveitado da melhor forma possível. Com atuações muito ruins desde o jogo contra o Internacional, fica cada vez mais claro que o treinador precisa repensar a forma com que pretende usar o jovem talento tricolor. Agora com um Nenê atuando em sua posição correta, próxima a área e centralizado, fica difícil imaginar que o camisa 11 consiga atuar na faixa do campo onde seus predicados serão potencializados. Talvez essa adaptação venha em um futuro 4° ato de Odair, mas esse ainda parece longe de virar realidade…

Sendo assim, uma eventual entrada de Luiz Henrique ou Fernando Pacheco para ocupar o lado esquerdo do ataque passa a ser uma mudança vista com bons olhos. Por mais que Marcos Paulo esteja (muito) longe de ser esse vilão que parte da torcida esteja pintando, talvez seja o momento de testar uma opção com mais velocidade e poder de drible para atuar aberto pela esquerda.

Apesar da demora, o lado positivo desses últimos 14 dias foi ver que Odair Hellmann está fazendo as alterações necessárias para a subida de rendimento da equipe. Mesmo passando longe de ter um super time, o Fluminense tem um elenco dentro da média nacional e pode sim ter um Brasileirão tranquilo, desde que todos os predicados da equipe sejam explorados corretamente.

Um abraço a todos e até semana que vem!