Gerente comercial não renovou contrato com o Flu, mas receberá comissão pela parceria com a Dryworld, mesmo que a empresa saia do clube antes dos cinco anos previstos em contrato (Foto: Cleber Mendes/Lancepress)

No momento em que a fornecedora de material esportivo do Fluminense vive uma espécie de turbulência no que diz respeito a confiança dos torcedores e, até mesmo, de alguns diretores do próprio clube, um funcionário importante dá adeus às Laranjeiras. No final do mês de abril, o contrato do gerente comercial, Marcelo Sá, terminou. Após conversas entre o profissional e o clube, as partes não entraram num acordo e, por opção do funcionário, que também fora o principal responsável pela vinda da Dryworld para o Fluminense, não houve renovação de seu vínculo. Mesmo deixando o Tricolor neste momento, ele receberá comissão pelos próximos quatro anos e meio, referente a parceria entre a empresa e o Flu, mesmo no caso de um litígio antes do fim do acordo total de cinco anos.

Dentro desse contexto, em entrevista exclusiva ao portal NETFLU, Marcelo Sá negou que salários ou quaisquer outras questões financeiras tenham tido alguma relação com a sua saída.

 
 
 

– Não houve insatisfação da minha parte. O contrato encerrou no final de abril e por uma opção particular, eu não renovei. Como ainda havia uma possibilidade de, talvez, continuar, só foi oficializada a saída no dia 13 de maio. Honestamente, tenho duas filhas pequenas, estava bastante distante e precisava estar mais próximo da família – contou.

No ano passado, foi iniciado o processo de divórcio com a Adidas. Não se podia ignorar uma quantia de US$ 3 milhões (Cerca de R$ 10,5 milhões) fixa por ano, mais 50 mil materiais esportivos, bônus por conquistas e divisão de lucros em vendas oferecidos pela Dryworld. Porém, algo ressoava nas entrelinhas: o comissionamento do diretor de marketing, Marcone Barbosa, definido previamente em 1%, no contrato assinado quando ele trocou o Cruzeiro pelo Flu, além dos 5% de Marcelo Sá, também previsto em contrato proposto por Peter Siemsen numa reunião do Conselho Diretor. O valor, que seria sobre as cifras integrais que chegassem ao Fluminense através da nova fornecedora, fora reavaliado e passou a ser em cima da diferença. Apesar do acordo quase mais que duas vezes maior do que o da antecessora, a comissão de Marcelo Sá era considerada demasiadamente alta por muitas pessoas. O mais incrível nesta questão, porém, é que em conversa com dirigentes importantes do Fluminense, o mandatário Peter Siemsen teria explicado que fechara o contrato grande de comissão porque não achou que Marcelo Sá conseguisse costurar valores tão superiores aos da Adidas.

Procurada pelo NETFLU, a assessoria da presidência destacou que o clube não se pronunciará sobre o assunto, salientando que questões contratuais são sigilosas. Já Marcelo Sá, ao ser questionado acerca do contrato de comissionamento, reitera, sem rodeios, no intuito de evitar a criação de qualquer polêmica em torno do tema, que sua desvinculação do clube não tinha resquício de atrito sobre o desejo de receber a comissão integralmente ou em 60 parcelas, como fora definida no fim das contas.

– Não faz sentido nenhum a questão da comissão do contrato da Dryworld. Ela foi regulamentada a maneira do pagamento. Em conversas, chegamos a um acordo de como seria o pagamento, até para não prejudicar o fluxo de caixa do Fluminense. Saio do clube com um ótimo relacionamento, tanto com o Marcone (Barbosa), Peter (Siemsen), que me convidou, e Roberta (Fernandes, a CEO do Tricolor). Continuo frequentando o clube como interessado no bom andamento de tudo que ocorre por lá, mas agora volto de vez para as arquibancadas. Não teve problema de salário, nada. Eu moro na Barra, distante do clube, e a dedicação que eu dava ao Flu, inclusive nos fim de semana, me impediam de participar da vida familiar. Foi o mesmo discurso que passei lá dentro. Foi tudo muito bem conversado. Entrei para ajudar o Marcone, para fazer a parte internacional e depois para estruturar a parte comercial. Hoje o clube está preparado para ir ao mercado, embora o grande problema seja a economia nacional. Tem muita gente fora do país interessada no Fluminense, mas a situação política do Brasil atrapalha um pouco. Criamos todos os meios para o mercado conhecer o Fluminense como plataforma de negócios. Daqui a pouco, esse trabalho pode dar frutos – concluiu.

Apesar do NETFLU ter destrinchado com exclusividade o sistema de comissionamento, em matéria publicada no dia 6 de janeiro deste ano, uma nova apuração do site explica, com ainda mais detalhes, os números, considerados exorbitantes, mesmo com o aval da presidência, envolvendo essa questão. Para entender o montante que o ex-funcionário receberá, mesmo após sua saída, pela parceria com a Dryworld é preciso distinguir sua base de cálculo. E ela não foi feita sobre o valor máximo de pouco mais de R$ 20 milhões anuais, empregados pela fornecedora canadense, que inclui material, premiações, verba de marketing e etc. Marcelo Sá tinha direito a receber em cima do valor de patrocínio, orçado em US$ 3 milhões fixos por ano. Imaginando o cenário do dólar a R$ 3,50, as cifras convertidas dão em torno de R$ 10,5 milhões anuais, enquanto a Adidas pagava, levando em consideração somente o dinheiro, R$ 4.590.000.00. Portanto, o gerente comercial recebe, e continuará recebendo, 5% sobre a diferença de R$ 5.829,500 multiplicada pelo tempo em vigor da Adidas, mais dois anos adicionais da Dryworld, fora o salário que recebia enquanto desempenhava suas atribuições junto ao Fluminense.

Para ficar claro: a diferença supracitada é válida para 2016, 2017 e 2018, quando se encerraria o contrato feito com a antecessora. Nos anos de 2019 e 2020, a comissão de 5% passa a ser em cima do valor total fixo pago anualmente (R$ 10,5 milhões por temporada), mas abatendo os R$ 4 milhões da multa rescisória com a Adidas.  Trocando em miúdos, multiplica-se R$ 5.829.500,00 por três (anos de contrato que haveria com a fornecedora alemã), adicionando mais R$ 21 milhões (valor cheio, sem interferência da diferença sobre o acordo com a Adidas) e subtraindo R$ 4 milhões (multa rescisória com a antecessora) para se chegar ao valor total de  R$ 34.488,500,00. Os 5% são calculados em cima deste universo, chegando a comissão total de R$ 1.724.425,00. Tal valor será pago em 60 prestações mensais de R$ 28.740.416,66 (período do vínculo com a Dryworld, já iniciado em fevereiro). O montante pode sofrer algumas alterações dependendo da cotação do dólar, apesar da ideia seja de fixar a cotação em torno de R$ 3,50.

Convidado pelo presidente Peter Siemsen, Marcelo Sá chegou ao Fluminense para tocar o projeto de internacionalização da marca. Até o final do ano passado, ele era gerente de negócios internacionais do Tricolor. Sob a sua batuta estavam, dentre outras tarefas, a participação do Flu na Flórida Cup de 2016, além de parcerias com clubes estrangeiros, onde Xerém se beneficia através do intercâmbio de atletas para diversos mercados do futebol estrangeiro. Nesse mesmo período, quando o departamento de marketing atual, com o diretor Marcone Barbosa e o vice Leonardo Lemos, se consolidou, entenderam que o profissional funcionava também como o homem encarregado pelas relações comerciais. Embora assumisse atribuições neste sentido, vide o acordo costurado com a Dryworld, ele não possuía o título de gerente comercial. Foi então que, em janeiro deste ano, após as demissões de quatro funcionários do marketing, o cargo foi oficializado para Marcelo Sá, objetivando um viés mais comercial para a pasta. Preocupados com as indefinições das áreas de atuação de seus funcionários, a cúpula do marketing compreendia que havia pessoas rodando em círculos. Sendo assim, até para poder se posicionar junto a um possível parceiro ou patrocinador, a decisão fora sacramentada. O salário do funcionário, contudo, em momento algum, sofrera modificações.