Mais do que um estádio. Assim o Globoesporte.com inicia a reportagem sobre as razões que levaram a exoneração de Pedro Antonio da vice-presidência de projetos especiais. O site listou 10 motivos que culminaram com a crise envolvendo o ex-dirigente. Confira abaixo:

1 – Antes da crise, a amizade
Pedro Abad e Pedro Antonio tinham boa relação. Construída a partir da campanha eleitoral do ano passado. Na época, aliás, o então candidato disse a Pedro Antonio que este escolheria o cargo que quisesse na futura na gestão. Pedro Antonio sinalizou opção pelo futebol. A negociação para a contratação de Abel Braga, com ampla atuação dele, deu pinta de que o departamento teria dono. Preferiu manter o posto de vice de projetos especiais. Abad, ao menos, ficou satisfeito: o manteve ao seu lado.

 
 
 

2 – Abad reluta, mas desgaste mina Pedro Antonio
Mesmo pressionado internamente a demitir Pedro Antonio, Abad tentou até o último dia manter o dirigente em seu cargo. Após a notícia do projeto do estádio, notícia divulgada em primeira mão pelo NETFLU e, posteriormente, o desdobramento no Globoesporte.com, o presidente ainda encontrou o então vice duas vezes.

Na primeira, em um jantar na noite de segunda-feira, os dois discordaram sobre a arena no Parque Olímpico. O mandatário pediu que não houvesse mais declarações à imprensa. Pedro Antonio concordou. No dia seguinte, à tarde, o subordinado foi a um programa da TV Bandeirantes e não aliviou nas críticas. Horas depois, Abad ainda se reuniu mais uma vez com Pedro Antonio, mas não houve entendimento.

O presidente, então, reuniu uma espécie de “comitê de crise” nas Laranjeiras. Só ali, na noite de terça-feira, decidiu pela demissão.

3 – Tudo começou com consultoria e posterior isolamento…
A chegada da Ernst & Young para realizar um projeto de governança no Fluminense foi o primeiro episódio do isolamento de Pedro Antonio. O dirigente nunca foi a favor da contratação da consultoria.

O relatório inicial da empresa deixou claro que um choque de gestão seria implementado. Centralizador, Pedro Antonio decidia tudo sobre o CT. Não se adequou aos pedidos da empresa. Durante o ano, se somaram produtos sem nota fiscal, atrasos na entrega de documentos e gastos não justificados. O alto custo de manutenção do local na Barra, que depende de gerador para ter energia elétrica e caminhão pipa para ter água, precisaria ser reduzido. O que não ocorreu na gestão de Pedro Antonio.

4 – Projeto é questionado, dirigente dá ultimato
Pedro Antonio é descrito por ser persistente e teimoso. Ele não aceitou críticas e sugestões ao seu projeto de estádio, que não teve total apoio no Conselho Diretor. Não se tratava apenas da capacidade.

Membros da direção questionaram custos, previsão de gastos, planejamento logístico, arquitetura e viabilidade financeira da obra. O dirigente não ouviu, retrucou. Ao mesmo tempo, um projeto de outro grupo ganhou força: mais aberto à sugestões, com capacidade para cerca de 40 mil pessoas e no estilo caldeirão.

Contrariado, Pedro Antonio bateu pé. Em conversa com Abad, chegou a dizer:

– Ou é do meu jeito, ou não terá obra nenhuma.

O presidente não cedeu e seguiu tentando negociar por ajustes. Pedro Antonio recusou e externou os detalhes à imprensa. Veio a crise.

5 – Teve também muita picuinha
Pedro Antonio sempre teve o mesmo estilo. Dizia o que pensava, o que achava certo. A qualquer um. Suas posições eram encaradas por pessoas do clube como picuinhas. Exemplo: no começo do ano, o então vice reclamou que alguns jogadores usavam a piscina do CT sem tomar ducha. Em um último caso, envolvendo Gustavo Scarpa, levou o descontentamento até Abad.

O presidente, também procurado por pessoas do futebol, solicitou que Pedro Antonio parasse. Resultado: o então vice tirou férias e viajou aos Estados Unidos. Outro caso: a sala de Abelão, até pouco tempo, era uma das únicas que não tinha persiana. O treinador pediu a instalação, para ter privacidade. Pedro Antonio entendia não haver necessidade dada a pouca luminosidade. A solução encontrada foi aplicar uma película nos vidros da janela. Mais um: a sala de uso da imprensa no CT não foi inaugurada pois Pedro Antonio não gostou das fotos escolhidas para decorar o local.

6 – Os embates com o marketing
Pedro Antonio sempre foi um crítico do trabalho do marketing, desde a gestão Peter. Entendia que o departamento dava pouco resultado. Viabilizou o acerto com a Viton 44, patrocinadora que substituiu a Unimed ao final de 2014. Mais: mostrou a camisa com a nova logomarca no Conselho Deliberativo sem o aval do marketing.

O ex-vice entendia também que o marketing nunca havia criado uma campanha para arrecadação de recursos ao CT – uma modalidade no plano de sócios seria lançada posteriormente. Por isso, idealizou a troca de camisas da Adidas por cotas de R$ 200 de interessados a colaborar com a construção. Foi contrário à instalação de placas de publicidade no CT por muito tempo: achava que a região, por ter muito vento, exigia outro tipo de publicidade.

Vetou ideia do departamento em usar placas grandes para esconder o entulho. O Flu, então, desrespeitou contratos de exposição de marcas. Durante a obra, o site do CT nunca foi para o ar. Agora, sem Pedro Antonio, se tem a certeza de que as coisas irão acontecer.

7 – A comissão sobre CT esvaziada
Ao anunciar a construção do CT, ao final de 2015, o então presidente Peter passou a ser questionado por conselheiros. A obra não estava no orçamento. Sem dinheiro, o clube firmou um contrato com Pedro Antonio: o dirigente faria empréstimo e, se quisesse, cobraria juros. Vinculado à Taxa Selic mais 2%. Ao mês. Pelo acordo, deveria receber em até 90 dias após cada empréstimo.

Quase sempre foi ressarcido com atraso, nunca cobrou os juros a que tinha direito. Para controlar a relação, Pedro Antonio sugeriu a criação de uma comissão no Conselho Deliberativo. O conselheiro Sergio Poggi a presidia. Tinha 14 membros, mas apenas três participaram efetivamente. Alguns documentos nunca foram apresentados por Pedro Antonio, que mostrava descontentamento com questionamentos. Ele repetia “não pedi auditoria”.

Ao final de 2016, com a troca de legislatura, a comissão foi encerrada. Um relatório foi feito, porém, nunca lido no Conselho. Há queixas de que Pedro Antonio marcava as reuniões em dias de semana e horário comercial. Com propósito de esvaziá-la.

8 – O cheque da discórdia
Não é segredo para ninguém a difícil situação financeira vivida pelo Fluminense. Ao assumir a presidência, Pedro Abad viu os cofres mais combalidos do que esperava, e a gestão apertou os cintos. Obrigações como comissões, salários e direitos de imagem atrasaram. Além disso, o clube também passou a ter em Pedro Antonio um grande credor.

Com muitas contas à pagar, a diretoria deu um cheque de R$ 479 mil ao vice-presidente de Projetos Especiais. Ele recusou.

– Não quero esmola. Para pagar isso, nem precisa.

9 – Dívida persiste
Pelo acordo, inicialmente, o limite do empréstimo era R$ 4 milhões. Foi aumentado posteriormente a R$ 7 milhões. A obra do CT quase parou. A construção da rua de acesso ficou inviabilizada por falta de verba. Recentemente, o Flu pagou R$ 1,5 milhão. A dívida atual é de R$ 5,5 milhões. Pedro Antonio, em outros casos, sempre ajudou o Flu. Pagou à vista R$ 480 mil de uma dívida com a Receita Federal e R$ 2 milhões para a compra de 10% dos direitos de Gerson. Já ressarcidos.

10 – E o futuro?
Pedro Abad não deu detalhes do futuro. O cargo de vice de projetos especiais deve ser extinto. O Flu não acredita que Pedro Antonio vá à Justiça cobrar a dívida. Mas há uma certeza: ele será candidato à presidência em 2019.