Torço para o clube por causa do time

Nobres tricolores,

 
 
 

acompanhei atentamente à entrevista de Pedro Abad ao programa Camarote Premiere no último domingo. Mostrou-se a mesma pessoa com a qual estive semanas atrás, em café promovido pelo próprio, na sala da presidência. Papo reto, sem embromações, falando diretamente para o torcedor do Fluminense.

A honestidade, certas vezes, é tanta que, sem querer, desvaloriza seus ativos quando diz para o mercado que precisa vender um atleta na próxima janela. Mas sigo o jogo num tema que me parece um dos mais sensíveis atualmente: o Sócio Futebol.

Abad deu um diagnóstico preciso quanto ao programa atual. Os planos são até razoáveis para os residentes cariocas e região metropolitana. Num deles, o mais popular, pagava-se um valor honesto que lhe dá a prioridade na compra do ingresso de meia entrada e o bilhete carregado na carteirinha. Mas ainda insuficiente.

Ser sócio do Fluminense está muito atrelado aos jogos. O tricolor que mora fora do estado do Rio de Janeiro e deseja se afiliar o faz por pura abnegação. Não há contrapartidas. Os próprios descontos em supermercados, nem tão atraentes assim, diga-se, são pouco divulgados pelo clube. Pedro Abad reconhece:

– A comunicação, não só da existência do plano, como tudo aquilo que envolve a associação, ainda é muito precária. Gosto muito de citar o caso do sócio futebol do Palmeiras, o Avanti, onde você encontra mutos sócios que não são torcedores do Palmeiras. A rede de descontos é muito ampla e vantajosa. Não interessa mais se você é torcedor daquele clube. Você tem um produto e precisa ser comunicado. A partir do momento que você recupera sua mensalidade mais do que você pagou em benefício você descola do momento do time, se o estádio é, Maracanã, Edson Passos ou Engenhão. Você fortalece a imagem de que o torcedor fortalece o clube e lhe dá vantagens.

Perfeito. Entretanto, antes desta explanação, o presidente do Fluminense opina sobre uma cultura que, na opinião dele, precisa ser modificada entre os torcedores. Para o mandatário, os tricolores deveriam privilegiar um clube forte. Time na mesma linha é consequência.

– O sócio torcedor do Fluminense ainda está num nível muito abaixo do que entendo ser razoável. Temos exemplos de clubes que tem receitas de sócio torcedor que é equiparada a cotas de TV. Tem duas TVs no ano. Estamos remodelando nosso sócio futebol com outra forma de enxergar o relacionamento do sócio com o clube. Eu, como torcedor, talvez seja uma das exceções. Torço para o clube, não para o time. O time pode ganhar ou perder, mas o clube tem de estar ganhando. Podemos ser campeões ou não, mas o clube tem de estar ganhando. O que precisa ser fortalecido, num macro cenário, é o clube. Fortalecendo o clube, você fortalece todo o resto. Uma receita de sócio torcedor do tamanho que o Inter tem, você cria uma vantagem competitiva tão grande que se sobressai no cenário.

Negritei as frases mais sintomáticas. Comercialmente, Abad pode estar certo. Mas discordo quanto à essência. A lógica do presidente é inversa. Não há clube forte sem time forte. O contrário existe. Nossa história comprova. Enquanto instituição, permanecemos distantes das principais agremiações do planeta, mas similar aos co-irmãos. Não impediu a conquista de títulos, a razão de o Fluminense existir.

O Tricolor foi criado em 1902, então cinza e branco,  para vencer. Milhões de torcedores foram alcançados ao longo de mais de um século por sua história, repleta de conquistas. Quem é fã do Olaria, da Portuguesa paulista ou do América-MG entende que qualquer vaguinha nas semifinais do Estadual ou 10ª colocação do Brasileiro merecem ser comemoradas como um troféu.

“Podemos ser campeões ou não, mas o clube tem de estar ganhando”. Como não ser campeão e ganhar? Como se cogita não ser campeão se a perpetuação de grandes clubes se dá pela conquista de títulos? O que é um clube forte sem time de futebol forte?

Há exemplos inúmeros de agremiações campeoníssimas que não souberam se aproveitar do momento de fartura e sucumbiram. Mas são poucos aqueles que passam anos sem vencer por, supostamente, “arrumar a casa” e voltam mais fortes. O lucro de um clube de futebol é ser campeão.

Na era Unimed, as finanças em Álvaro Chaves continuavam combalidas, como na infrutífera década de 1990. Um investidor poderoso auxiliou no crescimento da torcida. Porque fez um futebol forte. Trouxe os melhores. Ganhou, orgulhou. Despertou a inveja dos rivais, a ira de parte da imprensa e venceu. Talvez não tanto quanto se esperava, mas como nunca antes.

Nasci em 1985, ano do terceiro tricampeonato carioca

Simpatia pelas cores, influência paterna ou materna, mas, geralmente, quem se torna, ou nasce tricolor, é por causa de sua história, abarrotada de títulos. Sou Fluminense desde 1985. No ano em que fui concebido, o Tricolor faturava o tricampeonato carioca. Imagina nascer botafoguense ou corintiano e se manter fiel a quem se desacostumou a gritar “É campeão!” por mais de duas décadas?

O modelo “pés no chão” de Abad me agrada num primeiro ato. Não são nem dois meses de mandato e com alguma criatividade conseguiu montar um time titular de bom nível. Mas na conta do chá. O elenco é muito limitado.

Arrojou quando contratou Abel Braga, técnico identificado, de costas largas e ombro cansado de tantas faixas.

Mas após assistir a entrevista ao Premiere e o papo olho no olho em 26 de janeiro, prevejo três anos de disciplina, organização, mas conformação. O passo não será dado maior do que a perna, no entanto, sem intrepidez, não iremos além do que nossos olhos, míopes após os últimos anos de secura, podem ver.

É possível que canecos sejam elevados em uma ou outra Copa onde, nem sempre, o melhor vence. Penta? Improvável.

O Fluminense entra em seu sétimo ano sendo administrado como uma empresa de médio porte, onde o objetivo não é gerar lucro, mas sobreviver. E quem sobrevive, não vive.

– Renato, Luiz Fernando, Marquinho e Osvaldo…

– Os três primeiros são reservas imediatos dos titulares. Eis o nosso elenco

– Para ser campeão, lateral-direito, esquerdo, volantes e meias.

– Meus sentimentos à família do jornalista Haroldo Habib

– Botafoguense, perfeccionista e ótimo profissional. Tive o prazer de trabalhar com esse boa praça.

 

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