Quando jogador, Romerito fez o gol do título brasileiro do Fluminense em 1984 (Foto: Wallace Teixeira - Photocamera)

Bicampeão carioca (1984-85) e campeão brasileiro (1984) pelo Fluminense, Romerito concedeu entrevista exclusiva ao NETFLU. Na conversa, o ex-meia abordou diversos assuntos. Falou sobre o momento do futebol com a paralisação por conta da pandemia do novo coronavírus, avaliou o time atual, as gestões do clube e muito mais. Confira na íntegra:

Como você enxerga esse momento do futebol, que está paralisado devido ao coronavírus? De que maneira isso interfere no Fluminense, por exemplo?

 
 
 

– O coronavírus é um problema mundial. É um problema gravíssimo para o esporte coletivo, não só o futebol. Para o Fluminense, eu acho que é pior ainda porque o clube tem muitas dívidas. Não tendo o futebol, sem público, fica mais difícil. Está muito complicada essa situação. Muito complicada mesmo.

O que achou do acordo de redução salarial de 25% que o Fluminense promoveu junto aos jogadores, apesar dos débitos salariais e férias relativos a meses anteriores?

– Foi bom, muito bom. O problema é que todo mundo deveria estar fazendo isso, não só o Fluminense. Acredito que o Fluminense vai quitar todas as dívidas algum dia. Essa redução foi lógica, por conta do que está acontecendo em todo o mundo.

Como está a sua situação com o Fluminense? Segue trabalhando para o clube na aproximação com os torcedores, a exemplo do que acontecia na gestão Abad?

– Não. Quando saiu o presidente Abad, ou melhor, já com o presidente Abad eu saí do Tricolor em Toda Terra. Eu tinha uma ajuda de custo com as diretorias anteriores. Agora, eu sou convidado pelo Fluminense para ir a eventos oficiais do Fluminense. E também sou convidado para ir fazer eventos com torcedores, sem ser oficial do Fluminense. Tenho compromisso com a FluTimbó, a FluPiauí, talvez eu também vá para o Espírito Santo, mas tudo depende dessa pandemia. Hoje, eu não trabalho para o Fluminense. Às vezes recebo convites da diretoria de marketing para fazer presença em certos jogos e eventos do Fluminense. As outras coisas são particulares minhas diretamente com torcidas. Tudo isso começou quando um dos chefes era o Bernardo Pontes.

Qual é a sua avaliação da gestão Mário Bittencourt? E o que achou da gestão Pedro Abad?

– Acho que o Mário Bittencourt está fazendo um bom trabalho. As pessoas têm confiança nele. É uma pena ele não ter sido presidente do Fluminense antes. O Pedro Abad foi muito pressionado e muita gente que estava no entorno dele o atrapalhou muito. Se prejudicou. Mas ele salvou a situação do Fluminense, que estava bem complicado na questão financeira. O Abad tentou limpar o clube das dívidas, mas não saiu como havia pensado.

Agora falando do time montado pelo Flu para esta temporada: o que você achou? Gosta da forma como a equipe vinha jogando?

– O time estava evoluindo. Eu acho que o técnico estava testando a equipe em jogos que não podia testar, como por exemplo na Sul-Americana. Acho que o técnico armou mal o time, mas estava evoluindo. Fez um jogo muito bom contra o Flamengo, no 3 a 2, mas é lógico que todo mundo precisa se encaixar. Acho que o problema maior é o setor financeiro. O time atual é melhor do que o do ano passado.

Você acha que é possível que Nenê e Ganso atuem juntos como titulares?

– Eu acho que sim. Todos nós sabemos que o Ganso, no ano passado, veio sem muita preparação física. Mas nesse ano demonstrou evolução. Eu gosto dele jogando com o Nenê. Colocar o Miguel com o Nenê é diferente. Acho que o Ganso tem mais qualidade. Ele se preparou bem, tem gás para jogar. Eu só acredito que ele precisa jogar um pouquinho mais na frente. Tem que botar dois cabeças de área bons para deixar Ganso e Nenê juntos mais na frente. Não há problema nisso.

Em 2016, o Fluminense contratou o paraguaio Rojas. Na época, muitos diziam que o jogador tinha sido uma indicação sua. Ele nunca foi aproveitado e o clube tendo um investimento indo pelo ralo. Lamenta pelo atleta não ter tido chances? O que achou de toda essa situação?

– Eu nunca recomendei o Rojas para o Fluminense. Foi um pedido do presidente do Desportivo Luqueno, para eu retomar uma conversa que eles tinham com o Fluminense. Nunca indiquei o atleta. Ele tinha muito potencial, mas a disciplina individual foi o que o atrapalhou. Não só no Fluminense, mas em todos os clubes onde jogou. Ele deveria ter tido mais chances no Flu mesmo assim.

Qual é a sua opinião sobre a possibilidade do retorno de Fred?

– Tomara que ele retorne. Se vier, vai ser muito útil, porque vai tentar unir o time. O Fred tem gás ainda para jogar 45 minutos forte. Vai ser útil, porque é ídolo do Fluminense e a parte psicológica é e fundamental para um time.

Muita gente sempre questiona o motivo do Fluminense não ir tanto ao mercado Sul-Americano buscar jogadores. Você acha que o clube deveria investir mais em atletas de países vizinhos para reforçar o elenco? Qual é a sua opinião sobre Michel Araujo e Fernando Pacheco?

– O problema é que não é fácil. Se você quer jogador de alto nível aqui na América do Sul, tem que ter dinheiro. E o problema é o dinheiro (risos). Tem jogador na América do Sul que eu, por exemplo, vejo que poderia dar certo no clube, seja no Paraguai, Argentina… porque eu acompanho tudo. Mas acho que os estrangeiros que estão no Fluminense vão dar conta do recado. O Araujo e o peruano são bons. Tem que olhar bem para o continente e garimpar.

Você acredita que o Fluminense possa brigar pelo título da Copa do Brasil e do Brasileiro?

– O futebol brasileiro é o mais difícil no mundo. Tudo pode acontecer no Campeonato Brasileiro. Acho que o Flamengo está muito bem, o Palmeiras, o próprio Santos, São Paulo… mas o Fluminense pode chegar, mas não vai ser muito fácil. Vamos ver o que acontece. Como o futebol brasileiro é imprevisível, acho que a balança está com o Flamengo em primeiro e, depois, todos os outros times.

Existe algum jogador do time atual que teria vaga no time campeão brasileiro de 1984?

– Aí é difícil. Esse time de 84 era muito bom. Alta qualidade técnica, muito boa preparação física e jogava um futebol muito moderno. Não teria vaga pra ninguém do elenco atual lá.

Você aprovaria a volta do futebol em maio, como alguns dirigentes pretendem, mesmo sem a presença da torcida?

– Sim. Eu acho que sim, na segunda quinzena de maio. Mas as pessoas têm que respeitas as exigências sanitárias e voltar ao futebol. Acredito que o futebol possa ser um bom remédio para curar esta pandemia. As pessoas sem trabalho, com suspensão de salário, sem fazer nada fica ainda mais estressada. É complicado, a imunidade cai. Eu estou totalmente de acordo que se jogue a partir de maio.

Qual é a sua opinião sobre os constantes atrasos salariais do Fluminense? Como isso interfere na vida de um jogador profissional?

– Essa parte é ruim. Essas dívidas do Fluminense já vem de 20 anos atrás. Não é só do Peter, do Abad. Vem de antes do Horcades. Vem de muito tempo. Atrapalha não receber salários em dia, cria problema de instabilidade. Mas eu acho que a diretoria atual tem capacidade para sair. Dentro de um ano ou um ano e meio, imagino que o Fluminense terá uma vida financeira melhor.

Mensagem para a torcida tricolor

– Que tenham paciência. Deve ter jogo sem torcida. Temos que tentar manter os protocolos sanitários para tentar sair dessa situação. Os chineses já fizeram a besteira que tinham que fazer. Acabaram com a economia mundial nos próximos dois, três anos. Só nós podemos sair dessa. É importante ter paciência e, quando voltar ao futebol, o torcedor tem que se preparar para acompanhar tudo com mais respeito. O Fluminense é um clube grande e vai sair dessa. Tem uma das melhores, senão a melhor torcida do Brasil. Todos precisam ter confiança.