O vice-presidente de finanças do Fluminense, Diogo Bueno, falou ao site Globoesporte.com na sexta-feira. Detalhou a situação econômica do clube, os empréstimos contraídos para pagar dívidas com jogadores, empresários e outros e diz como a gestão trabalha para tirar o Tricolor da asfixia financeira. Confira na íntegra:

omo o Fluminense conseguiu quitar os direitos de imagem?
Quando assumimos, em 20 de dezembro de 2016, o Fluminense tinha todas as suas dívidas financeiras vencendo em 2017. Então, a nossa gestão, que vai de 2017 até 2019, teve como primeiro trabalho identificar as maiores dívidas financeiras que o clube detinha. E chamar todas as instituições que a gente tinha crédito para fazer alongamento do prazo de pagamento. A gente fez repactuação do prazo. Ao invés de pagar em 2017, acertamos de pagar em 2017 e 2018. Face da melhoria do ambiente econômico do Brasil, reduzimos as taxas de juros das operações, o que é bom pois reduz o custo dessa dívida no fluxo de caixa. Por fim, a nossa mensagem de transparência, com o déficit de R$ 76 milhões, com o orçamento aprovado, indicou um primeiro semestre bastante complicado. Conseguimos recursos novos para cobrir esse déficit no primeiro semestre.

 
 
 

Isso fazia parte do planejamento do clube…
O nosso planejamento financeiro sempre teve dois momentos para o clube. O primeiro momento era reduzir drasticamente a folha do futebol. Isso tem efeito de caixa relevante, com dispensas que tem de honrar e pagar. Depois, captar recursos no mercado mostrando comprometimento da gestão e com a nossa credibilidade. Então, mostrando o plano de ação, com ajuda da consultoria da Ernst & Young, a gente repactuou as dívidas e captou dinheiro novo.

Que dívidas eram essas?
A gente tinha dívida com agentes e empresários de futebol. Ainda as temos. Foram contraídas ao longo de 2015 e 2016, ou seja, não foram contratadas pela nossa gestão. A gente recebeu esse passivo. A gente falou: o Fluminense vai precisar alongar essa dívida. Isso tem de ser enfatizado: montamos um comitê, entre o futebol, financeiro e jurídico. Todas essas discussões passam pelos três departamentos. Listamos todas as dívidas com empresários e clubes de aquisições realizadas em 2015 e 2016. E a gente traçou estratégia. E eu, como vice de finanças, sentei à mesa com praticamente todos desses agentes. Expliquei a situação do clube, do compromisso do presidente Abad. E mais de 90% concordaram. Se convenceram que o Flu mudou a forma de gerir. Pela primeira vez, temos uma integração de verdade entre quem contrata (o futebol), quem tem o compromisso de honrar as contas (o financeiro) e quem tem de ver o respeito das leis (o jurídico). A gente se reúne semanalmente para ver isso. Os empresários, quem faz o negócio, entenderam o movimento de profissionalismo nosso. A gente está profissionalizando a maneira de gerir o clube.

E os direitos de imagem?
Tinhamos um déficit de caixa previsto no semestre de R$ 40 milhões. E a gente conseguiu levantar recursos para alongar. Tivemos um soluço nos direitos de imagem, mas está resolvido. Estamos quitando tudo em maio. No orçamento, o déficit previsto é de R$ 76 milhões no ano. A gente fez duas operações em instituições financeiras. Uma a gente reduziu a taxa de juros pela metade. E a outra reduziu em 1/3. E, claro, nesse processo de reestruturação, a gente quitou dívidas maiores. Quito dívida cara e fico com dívida mais barata. Meu compromisso mensal diminui. Me sobra mais caixa. Trouxe dinheiro novo. Fizemos redução drástica no custo do dinheiro do clube. Claro que passou por outra ação. Em janeiro, não contratamos ninguém, só o Lucas, e dispensamos alguns jogadores. Abel foi o esteio da credibilidade com o grupo.

Esse movimento não elimina a necessidade de venda de jogar, certo?
O presidente já falou isso ao torcedor. Infelizmente, o Fluminense terá de vender atleta. O que a gente quer fazer é que a deixe de vender para ter fluxo de caixa. Que a gente venda para investir, para quitar dívidas maiores. A nossa meta é que quando tiver receita de venda, ao invés de cobrir buraco de caixa, possa investir no clube. O que quero mostrar é que o nosso planejamento é para zerar qualquer déficit de caixa. Que a gente não se depare mais com situação como a deixada ao presidente Abad. É isso que a gente quer entregar em dezembro de 2019. Esse é o trabalho. Quero atingir tenha déficit zero operacional e que as vendas não sejam direcionadas para tapar buraco. Que sejam investidas em estrutura e mais atletas. Não podemos gastar mais do que arrecadamos. Por isso, contratamos a EY. Olhamos o custo do clube, se está adequado aos outros clubes do Brasil ou a empresas com orçamento parecido. O Fluminense é viável. A nossa meta é entregar o clube com zero déficit de caixa. Isso é pensar o clube para o futuro, para os próximos 100 anos.

Como se melhora a saúde financeira do clube?
Essa gestão trabalha não só pelos próximos três anos. Mas pelos próximos 100 anos. O Fluminense tem de almejar ser o top 3 do Brasil em tudo o que ele fizer. Em três anos, conseguimos fundamentar os pilares para o clube figurar entre os melhores do Brasil. Como diria Nelson Rodrigues, o Fluminense nasceu para a eternidade. Vamos tomar todas as atitudes para fundamentar a eternidade do clube. Queremos credibilidade, transparência para que a torcida possa acreditar. Precisamos muito dessa confiança em ajeitar a casa.

Por quais motivos o Fluminense chegou nessa situação?
O clube fez contratação equivocadas nos anos de 2015 e 2016. É o grande motivo. E a utilização dos recursos de receitas extraordinárias de maneira equivocada nesse período. O Fluminense nunca esteve confortável nesses anos. Tem uma diferença: a primeira pessoa, na cadeira da presidência do clube, que tenta mudar isso é o presidente Pedro Abad. Ele está tomando medidas necessárias. Não posso contratar, não contrata. É o primeiro presidente que, no jargão, não empurra com a barriga. É uma mudança de perfil. É uma grande preservação da instituição.

O segundo semestre ainda será de aperto?
Não vai ser mais tranquilo. A gente fez um planejamento que, a partir de julho de 2018, começaremos a ter mais tranquilidade e a sentir os reflexos das tomadas de decisões de agora. Isso tem sido dito aos diferentes credores, eles precisam entender essa dificuldade. O maior retrato disso é a previsão do déficit orçamentário. Estamos conversando com os credores e as instituições financeiras. Mostramos o nosso problema e o nosso planejamento. Até agora, temos tido o maior respeito de todos os nossos parceiros. Ganhamos voto de confiança. O que nos deixa muito engradecidos. É o reconhecimento da grandeza do clube.