A elite não vai voltar

Fala, galera!

 
 
 

Não é novidade que lá em 1902, quando o Fluminense foi fundado por Oscar Cox e cia, o futebol era um esporte elitizado. O mais popular na época era o remo, quando o Football chegou da Inglaterra. Sem espaço para pobres e, principalmente, os negros, o futebol era praticado apenas pela parte rica da cidade. Na sede histórica das Laranjeiras, palco não só do esporte bretão, a aristocracia carioca frequentava os bailes de gala e peças de teatro nos moldes dos realizados em grandes salões da Europa. Como pode-se ver na foto acima do Flu Memória, nos mesmos trajes, os torcedores assistiam os jogos do Fluminense e da Seleção Brasileira no estádio das Laranjeiras e, com isso, nasceu o mascote Cartola e o Tricolor ficou conhecido como um clube elitizado. Faz parte da nossa história.

O Fla x Flu de 1995 com 112 mil pessoas

Com o passar do tempo o esporte foi se popularizando, ficando mais acessível, até se tornar o mais praticado do país. Com a construção do Maracanã para a Copa do Mundo de 1950, grandes públicos começaram a ser registrados, com mais de 200 mil pessoas no que ficou conhecido como o “Maior do Mundo”. Assim, a história se manteve até a década de 1990. A partir dos anos 2000 o que se vê é o caminho inverso. Estádios cada vez mais vazios devido ao preço alto dos ingressos e da violência, que também contribui muito para este cenário.

No primeiro Fla x Flu decisivo da Copa Sul-Americana, que será realizado no dia 25 de outubro, a administração do Fluminense, provavelmente, em parceria com a do rival, divulgou os valores dos bilhetes. Variam entre R$ 70,00 e R$ 300,00. Estudante paga meia-entrada, mas o ingresso custa caro.

É uma estratégia muito falha do Fluminense, que certamente terá ampla maioria rubro-negra na arquibancada. É caro pra nós e também para eles, mas o detalhe que a diretoria não percebe é que a torcida do Fla é muito maior. A elite deles é maior do que a nossa.

Festa da Legião no antigo Maracanã

O nosso maior rival que durante anos esbanjou ser um time do povo, já não é mais. Bandeira de Mello e cia tirou o povão da arquibancada praticando preços exorbitantes, que deu lugar aos rubro-negros mais ricos. Ruim para eles, porque essa parte da torcida não canta, é muda. Já o Flu, desde a fundação da extinta Legião Tricolor, aos poucos, passou a ser mais popular. Com o movimento na antiga arquibancada amarela, jogadores reconhecidamente bem sucedidos na época de vacas gordas da Unimed e os títulos, teve a torcida que mais crescia nos últimos tempos no Brasil. Porém, os comandantes que passam por Laranjeiras têm a capacidade de afastar o torcedor do estádio. Principalmente com a prática de ingressos caros. Não fosse a necessidade de apoio, por conta do risco de descenso, os bilhetes para o Brasileirão não seriam menos que R$ 50,00. Ainda caro.

Se já não enchemos o estádio com ingressos a R$ 20,00, imaginem a R$ 70,00 o menos caro? É a nossa última chance de levantar um caneco na temporada e a gestão nos afasta do Maracanã. O programa de sócio-torcedor que deveria facilitar, continua sendo muito frágil. Escrevi recentemente aqui na coluna a dificuldade de se associar. Por cartão de crédito é necessário efetuar um pagamento parcelado, tornando-se necessário um limite alto. Via boleto, só é possível se tornar sócio aportando mais de R$ 300 à vista.

O fato de não encher o Maracanã não é culpa da torcida. O futebol é caro e o time do Fluminense não contribui dentro de campo. Diz a música que o sentimento é maior do que o placar, mas futebol se vive de resultado, bons times e títulos. Ninguém me convence do contrário.

Os valores definidos para as quartas de finais da Sul-Americana são um tiro no pé. A torcida do Flamengo vai engolir a nossa em público. O bilhete menos caro custa quase 10% de um salário mínimo, em tempos de crise batendo na porta. Como pode uma família com pai, mãe e um filho frequentar o estádio? Gastariam, pelo menos, R$ 200,00 para assistir o Fla x Flu da Copa Sul-Americana. Reflexo disso são os bares cheios e jogos vazios. A mentalidade de quem gere o futebol e o modelo de negócios utilizado por estes precisa mudar. A elite não vai voltar, pois ela também está quebrada. Estamos reféns do pay-per-view, com antecipações de receitas que os clubes fazem com a TV para pagarem as contas.

No Fla x Flu, já era, está definido. Mas ainda há tempo de planejar melhor para trazer o maior patrimônio do Fluminense de volta para o estádio, o seu torcedor.

Saudações!