(Foto: Divulgação - Twitter oficial do Fluminense)

Tema abordado de maneira veemente pelo presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, em entrevista coletiva na última terça-feira, no CT Carlos Castilho, o gramado sintético não tem apenas o Tricolor como “adversário”. Informa reportagem do O Globo que mais clubes se manifestaram contra o tipo de campo e a questão pode ser levada ao Conselho Técnico da CBF em março, semanas antes do início do Campeonato Brasileiro. É lá que todas as questões envolvendo as competições são definidas.

Este tipo de gramado é proibido nas principais ligas europeias. No Brasil, três clubes que disputam a Série A utilizam o campo sintético. Casos do Palmeiras, com o Allianz Parque, do Botafogo, com o Engenhão, e do Athletico-PR, com a Ligga Arena. A CBF atende a diretrizes da Fifa e Conmebol, que não proíbem tal piso. Mas a entidade principal do futebol tem regras para seu uso e os três as seguem. Qualquer mudança a respeito deve ser votada pelas associações.

 
 
 

— A minha posição é sempre contra o gramado sintético por uma questão de motivos. É necessário em algumas situações. Num centro de treinamento em que os campos estejam em recuperação, mas sem colocar em risco a integridade dos jogadores. Tem estudos pros dois lados. Eu defendo pelo princípio do jogo. Futebol sempre foi jogado em grama natural e o gramado sintético muda o jogo. O jogador fica mais lento, a bola prende mais e o quique é diferente, mas rápido. A Fifa aprovou, mas não necessariamente é bom. Você joga 80% no campo natural. Já ouvi de jogador aqui que virou o pé pra bater num lado e a chuteira prendeu a bola pegou no outro. Os times que não têm campo sintético, muitas vezes poupam. Assim, o time que tem campo sintético, muitas vezes pegam outros que estão poupando. Poupamos contra o Palmeiras na véspera da Libertadores. O Flamengo fez o mesmo no ano retrasado também quando estava às vésperas de jogar a Libertadores. Nós usamos o time principal no Santos e no Grêmio. Muitos falam do custo. Amigo. Se tem um clube e não tem condição de manter a grama, então vira uma casa de show. Por que às vezes o time tem que tirar o jogo da sua casa e jogar em outra praça. Isso afeta desportivamente o campeonato e o próprio clube. Tem time que mudou o campo pra jogar com o Grêmio e perdeu. E o Renato falou que se fosse no sintético não teria o Suárez em campo. O Messi assina um contrato nos Estados Unidos exigindo que ele não jogue no sintético. É um outro jogo, um outro futebol. Quem opta, opta pelo lado financeiro. Por que o campo do Beira-Rio é bom? Só joga o Inter. Por que o do Corinthians é bom? Só joga o Corinthians. Quais tem mais dificuldade de tratamento no Brasil? Castelão, porque jogam Fortaleza e Ceará. Maracanã, jogam Fluminense e Flamengo. Aqui o argumento é puramente financeiro. Aí tem de perguntar pra quem tem sintético se vale a pena fazer cinco show ou perder. Se é melhor perder um título e fazer cinco show. Eu prefiro o título. Tem quem prefira fazer cinco show. Na liga inglesa é proibido, a holandesa acabou de proibir. A Fifa não faz Copa em campo sintético. Se é tão mais barato e não é ruim, por que não joga o mundo inteiro na sintética? Por que as melhores ligas do mundo não jogam? Os jogadores não gostam de jogar. Essa não é só uma posição do Fluminense. Mas eu garanto que a maioria dos clubes da Série A é contra. Quando saiu a reportagem lá da gosma no jogo do Palmeiras, recebi mensagens de oito presidentes dizendo: “Olha aí, não dá pra continuar com isso”. Mas isso é coisa pra arbitral. E não podemos ser injustos. Se for proibido, os clubes que têm precisam ter tempo para mudar o campo – disse Mário Bittencourt em coletiva.

Além do Fluminense, o Cuiabá se posicionou a favor de jogos apenas na grama natural. O Grêmio não foi tão incisivo e se manifestou por intermédio de nota. “O Grêmio está sempre aberto a todas as discussões que visem melhorar o futebol brasileiro e entende que esta é uma questão importante que pode ser discutida no âmbito dos clubes”. No ano passado, o time gaúcho superou o Botafogo em São Januário, onde o gramado é natural, e o técnico Renato Gaúcho chegou a afirmar que o atacante uruguaio Luiz Suárez, hoje no Inter Miami (EUA), não teria ido a campo se o duelo fosse no Engenhão (a partida mudou de local em virtude de um show no estádio alvinegro). O detalhe é que o centroavante fez três gols na vitória gremista por 4 a 3.

Tal qual o Fluminense, um outro representante de clube brasileiro, que não quis ser identificado, falou ser contra.

— Somos contrários ao uso de gramados sintéticos. Pensamos que deveríamos seguir as principais ligas do mundo, como a inglesa, que não permite a utilização – disse.

Jogos em grama sintética são proibidos nas principais ligas europeias na primeira divisão. São os casos da Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha, França, Portugal e Holanda.