(Foto: Mailson Santana - FFC)

Em entrevista ao canal do YouTube “Entre Linhas Futebol Debate”, o técnico Fernando Diniz contou um pouco sobre como administra questão de valores e as cobranças de alguns jogadores dentro de um elenco vasto do futebol profissional. Sóbrio, comparou com atletas de antigamente e fez uma análise sobre o comportamento do atleta atual.

– Isso que estamos tratando, dos valores de dinheiro, é uma questão do mundo de fora, não do mundo de dentro. Acho que sempre temos que procurar organizar e centrar naquilo que está dentro, é interno e do que tem controle. Quanto mais demanda externa, mais trabalhado internamente o jogador tem que estar. Não só os jogadores, mas todo mundo que convive no meio do futebol. Então você acaba se perdendo. Porque você ganhar mais dinheiro é sinal que já esteve mais exposto, fica mais valorizado e vai ser mais cobrado. Para dar conta disso tem que trabalhar o melhor que pode consigo mesmo e é internamente que se faz essas coisas. Se ficarmos olhando para fora, não damos conta. Você não sonhou em ser jogador de futebol para ser cobrado, ser execrado – disse ele, acrescentando:

 
 
 

– Você sonhou em imitar o Zico, Paulo Sérgio, Romário e ser jogador profissional como aquelas pessoas. Conforme você vai crescendo, a gente não tem estrutura para administrar com as crianças, adolescentes e jovens aprenderem que eles têm que estar bem com eles mesmo independente do que ele ganha. Não é o que ele ganha que vai ter o valor intrínseco dele. O que ele é, é o que ele vai ter que ser. Se ele achar que por receber muito mais do que recebia no ano passado, ele tem que jogar muito mais, ele vai jogar pior. Inevitavelmente. O que fez ele ganhar um salário maior foi justamente a liberdade que tinha para ser criativo e se divertir jogando futebol. Se você troca isso e coloca carga você acaba massacrando seu talento. A pressão de fora começa a te oprimir e daqui a pouco você vai ser um jogador pior do que foi no passado recente – prosseguiu:

– Mas esse tipo de preocupação quase ninguém tem. A gente acha que “o cara jogava bem, agora que ganha 10 vezes mais, tem que jogar melhor porque ganha mais”. Mas não tem nada a ver com isso. Ele ganha melhor justamente porque se sentia confiante e com liberdade para fazer aquilo que tinha que fazer. Temos que trabalhar isso. Essas questões internas são muito colocadas em segundo plano, quando elas deveriam ser colocadas em primeiro plano. Não podemos atender uma demanda externa. Quanto mais uma demanda externa aumenta, mais você tem que estar bem cuidado internamente – finalizou.