O Fluminense apresentou superávit milionário nas contas de 2015. Principal grupo político do Tricolor e com conhecimento dos gastos, a Flusócio fez um post explicativo, através de seu blog, sobre os números divulgados na última semana.

Confira:

 
 
 

“O Fluminense apresentou recentemente suas contas relativas ao ano de 2015 e, depois de muito tempo, conseguiu fechar o ano com superávit. Para se ter uma ideia, o site do clube possui os balanços desde 2004 e, em todos os anos anteriores a 2015, foram apresentados déficits, sejam eles grandes, como o de R$ 137 milhões em 2007, na gestão Horcades, tão tenebrosa e descuidada com as contas do clube, ou menores, como o de R$ 3,3 milhões em 2013.

O “fato novo” que permitiu que o Fluminense tivesse este superávit consistente foi a adesão do clube ao PROFUT, programa de reescalonamento de dívidas do governo federal que permitia um desconto na dívida mediante desembolso na adesão. A entrada neste programa contou com atuação importante do nosso candidato Pedro Abad, atual presidente do Conselho Fiscal do clube, e gerou uma receita financeira de R$ 58 milhões, valor que foi abatido de nossa dívida fiscal.

A dívida total, analisada de forma bruta, teve um pequeno aumento com relação a 2014 (na ordem de 6%). Porém, se considerarmos a dívida líquida, o saldo caiu cerca de R$ 18 milhões entre 2014 e 2015. Este cálculo de dívida líquida exclui os valores de direitos de imagem a pagar de curto e longo prazo por entender que este deve um lançamento de despesa x caixa e seu lançamento como dívida possui natureza puramente contábil. Resumindo: Se o Fluminense contrata um jogador por 5 anos, contabilmente deve lançar o valor de seu salário até o final do contrato como dívida, porém se este for negociado antes do fim do contrato, o valor a vencer é abatido. Por isso, numa ótica mais real, a análise deve ser feita considerando a dívida excluindo salários e direitos de imagem a pagar, refletindo assim apenas a dívida efetiva do clube (empréstimos, fornecedores, impostos, ações trabalhistas e cíveis), com os salários e direitos de imagem sendo contabilizados como despesa mensal e lançados contra o caixa quando ocorre o pagamento e como dívida caso o clube atrase o pagamento (apenas do valor vencido e não do a vencer).

Sabemos que a receita ordinária é baixa, quando comparada com a dívida total e, por isso, torna-se difícil manter um time competitivo e compromissos do dia-a-dia aliados a uma redução forte no passivo total. Apesar disso, alertamos que o clube poderia tomar algumas medidas eficazes visando a redução de seu custo, o que teria impacto direto na dívida, como um foco constante na gestão da conta de salários e imagens de atletas a pagar (inflada por uma série de contratações erradas) e a busca por enxugar setores deficitários. É urgente que o clube consiga novas formas de receita para poder dar um tratamento melhor a seu passivo.

Mesmo assim, nos 5 anos da gestão Peter Siemsen, a dívida aumentou 28%, o que pode ser considerado um valor pequeno, quando índices econômicos tiveram aumento maior no mesmo período, como os índices de inflação IPCA e IGP-DI, que variaram 41% e 38% respectivamente no período ou o CDI, um dos principais indexadores de empréstimos, que variou 64% no período. A comparação com o período anterior chega a ser ainda mais assustadora, pois a dívida do Fluminense aumentou 173% nos 6 anos do período Horcades contra 28% do período Siemsen.

A receita aumentou 47% com relação a 2014. Este incremento foi turbinado por um bom ano de venda de jogadores (R$ 36,5 milhões, contra R$ 5,6 milhões em 2014). Destacam-se aí as vendas de Conca, Kenedy, Bruno, além do direito de preferência de Marlon. A venda do jogador Gerson, a maior da história do Fluminense, foi contabilizada apenas em 2016, por problemas de documentação e, por isso, não entrou na prestação de contas 2015.

A despesa, infelizmente, manteve o viés de aumento. Os gastos com pessoal e direitos de imagem saíram da curva e foram maiores que 2014 em R$ 34 milhões, influenciados pelos salários dos jogadores que eram pagos pela antiga patrocinadora e passaram a ser pagos pelo clube, além de contratos feitos em 2015 que aumentaram estas duas contas. Este é o ponto onde o clube deve ter maior cuidado em 2016, dosando a despesa de forma que maximize o resultado dentro de campo, evitando custos afundados, como foram algumas contratações recentes que nos geraram custo em rescisões e às vezes passivo trabalhista.

Outra rubrica que deve ser analisada é a dos esportes amadores, que mantém sua tendência de déficit desde o início da gestão. Agora, com a CND nas mãos, esperamos que este setor do clube consiga captar patrocinadores e dê um salto de qualidade, gerando ganhos de imagem, títulos e superávit ao clube.

Ainda sobre a dívida, o clube precisa ter mais cuidado com passivo de curto prazo (aquele que vence em 1 ano). Em 2015, por conta de necessidades imediatas de caixa, o Fluminense pegou cerca de 12 milhões em empréstimos relativamente caros com BMG e Lecca, além de um valor de cerca de 9 milhões, para o pagamento de direitos de imagem de novas contratações.

A redução da dívida trabalhista via Ato foi de cerca de 8 milhões. O valor total devido no Ato Trabalhista é de cerca de R$ 70 milhões, ou seja, ainda teremos mais alguns anos onde parte da receita da TV vai direto para a conta do TRT para pagamento deste acordo que nos retira, atualmente R$ 1,2 milhão mensais. Uma das formas de reduzir esta dívida seria destinar parte de uma venda futura para fazer acordo com credores trabalhistas do clube mediante deságio, o que poderia gerar forte economia ao Fluminense e reduzir drasticamente o tempo de pagamento do Ato.

Outra dívida de curto prazo que aumentou foi a de “contas a pagar” que subiu de 20 para 50 milhões e refere-se a Direitos Econômicos de jogadores que devem ser pagos, incluídos aí o adiantamento do Gerson a ser devolvido ao Barcelona e as contratações de Henrique e Richarlisson.

No lado do Ativo, a parte circulante não teve grande aumento, continuando sempre muito baixa. No intangível houve elevação na conta de “contratos de imagem”, por causa das negociações de jogadores que tinham salários pagos pelo antigo patrocinador e passaram a ser pagos pelo clube. A variação apenas neste item foi de cerca de R$ 34 milhões, que evidentemente geram um aumento no mesmo montante no passivo/despesa. A se destacar também o lançamento do CT da Barra no Ativo Imobilizado, que aumentou esta rubrica em cerca de R$ 4,2 milhões.

No cômputo geral, podemos concluir que o Fluminense vem mantendo um trabalho excelente de controle de dívida através do escalonamento de passivos trabalhistas e fiscais. A venda de atletas não é uma conta com um valor constante mas mantém uma média considerável ao longo do anos, sendo um dos pilares para a busca do reequilíbrio fiscal. No campo, se a situação não é excelente, também não é muito ruim, pois o Fluminense já conseguiu um título em 2016, após um 2015 ruim. Estaremos sempre cobrando internamente para que o clube consiga fontes alternativas de renda, como incremento na receita de associados e patrocínios, além do fechamento de alguns ralos em todos os setores do clube buscando sempre a excelência nas contas, atingindo assim bons resultados tanto dentro quanto fora de campo”.