(Foto: Lucas Merçon - FFC)

A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj), com o apoio da maioria dos clubes, exceto Fluminense e Botafogo, apresentou documento defendendo a volta dos treinos e jogos “assim que possível”. Tal situação é vista com péssimos olhos por Chrystina Barros, pesquisadora e integrante do comitê técnico de combate ao coronavírus da UFRJ. Segundo ela, não há como garantir a segurança em meio à pandemia do novo coronavírus.

– Não é possível o retorno de treinamentos e, muito menos, dos jogos, mesmo sem público. Existe uma ilusão de achar que protocolos vão garantir um jogo de futebol 100% seguro. É um total desserviço que o esporte presta. Seria ir na contramão de tudo o que o mundo faz. O Rio de Janeiro trabalha hoje com a possibilidade de lockdown, nós estamos em um número ascendente de óbitos. Quaisquer medidas como as que são propostas, quando aplicadas, podem diminuir riscos, mas é impossível garantir, hoje, que não haja transmissão. Você pode fazer a limpeza a cada uso de banheiro ou vestiário, mas duas pessoas em um mesmo espaço representam um alto risco de contaminação. A proposta é submeter esse jogador a um possível contágio. Nenhum protocolo consegue dar conta ou prever isso – criticou Chrystina, que tem com 25 anos de experiência na área de saúde.

 
 
 

A pesquisadora vai além e destaca o papel do esporte como exemplo. Em sua opinião, a possibilidade dos campeonatos voltarem enquanto diversas pessoas morrem por causa do Covid-19 é um contrasenso.

– O esporte precisa inspirar saúde e isso vem, fundamentalmente, pelo exemplo. Qual exemplo o futebol está dando? Futebol é um esporte de contato. Como vamos garantir que pessoas que vivem em comunidades não vão usar seus campos de futebol para replicar o que seus ídolos fazem nos gramados? Estádios no Brasil foram transformados em hospitais de campanha. Como vamos jogar bola entre camas e respiradores? Como os times vão disputar um esporte com uma proposta de saúde tendo ao lado pessoas que enfrentam a morte em condições improvisadas? – questionou a especialista.