Diniz apareceu na sétima posição em lista do jornal espanhol (Foto: Marcelo Gonçalves - FFC)

Amigos, o desafio é gigantesco. Um super clube, bilionário, que contrata quem quer, dirigido por um dos maiores gênios da história do esporte. O homem que mudou o jogo.

Um time que sobra no torneio mais competitivo do planeta (ganhou cinco das seis últimas edições), o atual campeão da Champions, que fez o maior vencedor da história da competição parecer um Olaria na semifinal. Os feitos do City de Guardiola são imensos.

 
 
 

Mais que os títulos, impressiona a forma como domina e se impõe sobre praticamente todos os adversários, até quando não vence.

Nunca na história centenária do Fluminense, o clube entrou em campo para um confronto tão desigual, reflexo de uma concentração de renda (inúmeras vezes de origem duvidosa) que privilegia poucos clubes e praticamente inviabiliza competir.

A busca pelo controle, pela posse de bola, a coragem pra jogar e a consequente dificuldade pra se defender de transições são semelhanças entre Manchester City e Fluminense. E elas param aí.

Na fase defensiva, o Fluminense recua todo o time em bloco baixo pra defender sua área e proteger bem sua última linha, que é lenta, principalmente do lado esquerdo.

O City joga praticamente o tempo todo em perde-pressiona, com seus jogadores ocupando o campo de ataque e sua última linha defensiva quase no meio do campo.

Há uma passagem de certa forma engraçada num dos livros do Guardiola que menciona que seu maior sonho é jogar uma partida em que o adversário não saia de sua área defensiva.

Também num dos livros, é mencionado o pavor que Guardiola tem de tomar gol e, por isso, o desejo de manter a bola longe de sua meta.

Na fase ofensiva, o Fluminense tem a bola como referência, o City, os espaços. No Flu a gente se acostumou a ver o time se juntar ao redor da bola, tanto para construir seu ataque, quanto para ter o controle do jogo.

No Fluminense, são raras as inversões (até aconteceu no último jogo). O padrão é atacar por onde tem mais jogadores. Muitas vezes o time até simula uma virada pra balançar a defesa adversária, mas a bola já volta pra buscar onde estão seus atletas.

O City é o inverso. O lado do campo é muito utilizado. A bola vai pro lado do campo e os outros jogadores começam a invadir os espaços pra dar opção de passes. O jogador que pega essa bola, Grealish, Folden, Bernardo Silva sempre estão com a opção do drible e de alguns passes.

Fechadas essas opções, rapidamente essa bola é invertida para, de novo, recomeçar. É certo que essa bola vai chegar no nosso lado esquerdo pra disputa individual e aí o time vai precisar ser muito solidário.

E a bola roda pelo meio, chega no lado campo, volta pro outro lado, e os jogadores vão se apresentando seja pra invadir a área, seja pra finalização de média distância, que é muito bom com Rodri, o grande maestro desse time.

O City tem desfalques muito significativos pra essa final, desfalques que têm feito falta na Premier League. E qual o caminho então pra tentar o milagre? E aqui surge um dilema.

Pra mim, o caminho pra vencer um jogo do City é saber pressioná-los muito sem a bola e fazer um jogo direto de retomada e ataque de espaços. Os times de Guardiola ficam muito incomodados com jogos sem controle, com correria e ataques lá e cá.

Essa estratégia sugeriria a escalação do JK, do Diogo e tirar Ganso e Marcelo do time. Mas isso seria abrir mão de tudo que trouxe o Fluminense até aqui.

Esse Fluminense que encanta, joga, trabalha um ataque praticamente de forma artesanal, tem Ganso, que fez uma grande semifinal, e Marcelo, decisivo na semifinal.

Fernando não vai abrir mão do modelo vencedor que o trouxe até aqui. E aqui reside a beleza desse encontro. É certo que, no maior dos palcos, no maior dos jogos, o Fluminense tentará ser Fluminense. E quem pode criticar essa escolha?

A questão que fica posta é se o Fluminense conseguirá ou passará o tempo que estiver com seus titulares completamente acuado, sem saída, algo que, considerando como cada um defende e ataca e a discrepância dos elencos, não será surpresa.

Se acontecer, é tentar resistir, defender muito bem área e arredores e buscar a vitória nas substituições.

Esse jogo desperta essa curiosidade pra ver o que o Diniz e os jogadores farão pra tentar jogar como gostam e sabem diante de um adversário que não permite a ninguém ter o controle das partidas.

O Fluminense de 2023 é repleto de virtudes e debilidades. Até aqui, os confrontos contra Argentino Junior, Olimpia, Internacional, Boca Juniors e Al Ahly puderam ser vencidos com as virtudes superando os problemas, que não são poucos e a semifinal mostrou isso.

Agora o Flu precisa do jogo perfeito. A maior atuação da história no confronto mais difícil de sua história, com alguns dos seus atletas fazendo o maior jogo de suas vidas.

Ou contar com um dia muito ruim do City Eu não contaria com isso.

Os programas e tabloides ingleses riem do Mundial e chamam o Flu de time de aposentados. É como pensa o colonizador que espolia, rouba, usa da pobreza de outros povos para levar sua matéria prima.

Zombam de nós, mas encontrarão pela frente um Fluminense que ousou sonhar e carrega consigo a esperança de mudar uma tendência que se repete há 10 anos (a taça ir pra Europa).

Mais que isso, se a análise fria e racional desse jogo faz ele pender demais pro City, existe um sentimento muito forte de esperança do torcedor tricolor. Uma corrente de todos juntos por um sonho que tem tornado esse Flu um time difícil de ser batido. E isso eles não têm do lado de lá.

O Fluminense de Diniz rompeu paradigmas, é histórico e necessário. Nasceu aqui na América do Sul, aqui dentro das Laranjeiras, uma revolução brasileira, uma forma de jogar inédita e autoral que, pro bem do jogo, venceu.

A vitória nesta sexta-feira (22) do Fluminense seria a vitória da humildade, da solidariedade, da criatividade. É assim que se lida com a falta dos melhores recursos.

É assim que vive nosso povo latino americano. Eles não sabem, mas o Fluminense também joga por eles.