Você lembra?

Você lembra como era jogar contra um time forte como o do Santos, na Vila, de 2013 para cá?

 
 
 

Quais eram as suas aspirações? O que você esperava do Fluminense? Quantas vezes brincamos com a expressão “vem, gol cagado” quando o desafio era pegar qualquer gigante do futebol brasileiro fora de casa?

Já vencemos jogando fora, por uma bola, sofrendo pressão os 90 minutos? Já. Mas perdemos muito mais.

A sensação de entrar em campo numa situação como essa era sempre muito parecida: “Puta merda, abre a cerveja aí que vamos tomar calor o jogo todo”.

E tome Gum dando bico pra cima, tome ligação direta para a cabeça do atacante, tome reza braba para que aparecesse alguma falta lateral ou escanteio a nosso favor.

O Fluminense de hoje é diferente. Acabaram-se os bicões, foram-se os momentos de pressão que não cessavam minuto algum. Jogamos futebol. Ao menos tentamos. Ficamos com a bola, quase sempre mais tempo do que os adversários, jogando dentro ou fora de casa, contra grandes ou pequenos.

Bom? Bom. Ótimo? Não.

Porque a posse da bola e a vontade de propor o jogo só valem se os resultados aparecerem. Acho graça quando vejo esses comentaristas mequetrefes de programas esportivos pedindo calma. Calma é o cacete. Quando é com o time deles eles não pedem calma, pedem cabeças, como, aliás, estão fazendo todo o dia com o Abel no Flamengo.

Eu não tenho calma, embora devesse tê-la. Você provavelmente não tem calma, porque calma e torcida são como água e azeite.

Os resultados ditam as regras do jogo. Azar de quem não entende isso. A paixão domina tudo. E querem saber? Não lamento. É futebol, não é tênis.

Minha apreensão é porque eu estou entusiasmado com a nova proposta de jogo do Fluminense de 2019. E puto porque – querendo ou não – os resultados são pífios.

A rigor o Fluminense só venceu um jogo contra um grande neste ano, aquele Fla x Flu com gol no último minuto. E já estamos em maio. Acumulamos frustrações em jogos grandes, terminamos atrás do Bangu no ridículo Carioca e conseguimos não vencer times fraquíssimos como Santa Cruz, Luverdense e Antofagasta, além dos horrorosos Vasco e Botafogo.

Não. O Fluminense não está bem.

Não. Com esse elenco e essa diretoria que temos eu não acredito que qualquer outro treinador altere o quadro tão para melhor que justifique a interrupção do projeto Fernando Diniz.

O problema é que o poeta precisa comer, lavar roupas e descansar. O gênio precisa pagar o condomínio, botar gasolina no carro e fazer a declaração do imposto de renda.

O que quero dizer é que uma ideia, por mais fodona que seja, precisa de cuidados práticos para não morrer ideia.

Diniz, ao que me parece, está achando que sua ideia é tão boa, tão poderosa, que se sustenta em si mesma.

Meus caros, isso não vai acontecer.

Vamos continuar com essa proposta? Vamos! Você lembra como era ruim aquele jogo de bico pro alto.

Mas vamos encarar de frente o fato incontestável de que os resultados estão uma porcaria. E se estão uma porcaria é porque algumas coisas não estão funcionando.

Diniz precisa buscar alternativas. Manter um time com atuações ruins e não fazer nada está colocando em xeque a capacidade cognitiva de nosso comandante. Tão importante como o conceito, a ideia, é a forma de materializá-los.

Vamos jogar com a bola? Beleza! Vamos! Então vamos botar gente que cuide dela com mais carinho? Vamos jogar de forma dinâmica, propondo o jogo? Vamos! Então vamos investir em jogadores que se movimentem, que tenham agilidade. Vamos motivar os atacantes para que tenham tesão de fazer gol? Vamos! Vamos rodar mais os jogadores, buscar alternativas que tirem os Lucianos da vida de uma inexplicável zona de conforto.

Muito bom saber que o Caio Henrique faz bem a lateral, mas vamos colocá-lo onde pode fazer mais diferença com seu jogo dinâmico? E o Airton? Acho um ótimo jogador. Mas não vale botar alguém que seja de fato um atleta que possa manter o nível os 90 minutos? Queremos um meio de chegada na frente? Por que mantemos o Bruno Silva que tem enormes dificuldades com os fundamentos do jogo? O Yony Gonzalez joga mais pelos lados? Por que não o tiramos do meio da área? Por que não testamos mais opções?

Diniz está sendo abraçado por todos – torcedores e imprensa – porque vende a ideia de ser um cara com proposta diferente.

Concordo plenamente com isso.

Mas de nada adianta a ótima ideia, a bacana concepção de jogo, desacompanhada de ações que demonstrem o inconformismo com as coisas que não andam bem.

Em outras circunstâncias eu estaria vociferando canivetes afiados na jugular do treinador, desejando sua cabeça numa bandeja de ouro.

Hoje, no entanto, eu quero pra cacete que esse cara entenda que nem Oscar Cox – que teve a melhor ideia de todos os tempos – teve o direito de sentar em cima dela.

Ou muda, ou cai.

E se cair, cairemos todos. Outra oportunidade de trabalhar uma ideia bacana como essa eu não vejo tão cedo no futebol brasileiro.

Muda, Diniz! Tem muitas obviedades escancaradas na sua frente.

Abraços tricolores