Souto diz ter sinalizado positivamente a Mario no sentido de já trabalhar a renovação com Diniz para não atrapalhar planejamento (Foto: Mailson Santana/FFC)

Diniz participou do programa “Bem Amigos” e falou sobre seu estilo de jogo, defendendo o jogo aposicional e de toque de bola curta que usa em suas equipes.

O jornalista Leonardo Miranda, do “Globoesporte.com” escreveu em seu blog, nesta terça-feira (20), uma análise sobre o estilo de jogo de Fernando Diniz relacionando com outras equipes do futebol brasileiro e mundial

 
 
 

Veja a análise abaixo:

Na mesma semana, o Fluminense perdeu de 3 a 0 do Corinthians na Copa do Brasil e venceu o finalista da mesma competição (e da Libertadores), o Flamengo, por 2 a 1. Vitória e derrota são dois lados da mesma moeda. O que não muda no Fluminense treinado por Fernando Diniz é a forma de jogar, tida como única por treinadores como Luís Castro e admirada (e criticada) por muita gente.

No Bem, Amigos dessa segunda (19), o técnico foi indagado por Galvão Bueno e Luiz Carlos Júnior sobre sua forma de jogo. E deu uma explicação bem tática daquilo que enxerga como futebol:

– Por conta de gostar de ter a bola, as pessoas me associam ao Guardiola. Mas para aí. A maneira dele ter a bola é o oposto da minha. Nos times do Guardiola, com dois minutos você vê que os jogadores obedecem a um espaço. Quem está na direita fica na direita, quem está na esquerda fica na direita e a bola chega naqueles espaços. Claro que o Guardiola foi modificando, os laterais, como o Cancelo, passam. O jeito que eu vejo nesse momento é quase que aposicional. Os jogadores migram de posição. É um jogo mais livre, a gente se aproxima nos setores do campo e nesses setores, há trocas de posição. Acho que isso tem a ver mais com a cultura do nosso futebol – disse Diniz.

Desde que a análise tática se tornou popular no Brasil e invadiu as redes sociais, alguns termos como Jogo de Posição e jogo posicional ganharam a boca de muita gente, e ficou conhecida após Tite citar o Manchester City como sua inspiração para a Seleção jogar num 2-3-5 com a posse de bola na Copa do Mundo de 2018, com Willian e Neymar sempre bem abertos, e ficou no imaginário com Domènec Torrent, Ramírez, Paulo Sousa e os sobreviventes Abel Ferreira, Luís Castro e Vitor Pereira usando o termo nas coletivas.

Como Diniz falou, todo treinador é único. É muito sedutor e dá uma certa pompa acadêmica colocar treinadores em quadrantes e escolas diferentes. Mas num mundo globalizado e com acesso à informação, todo mundo tem acesso a materiais acadêmicos. No fim, muitos treinadores usam elementos posicionais, da escola de Cruyff, dos portugueses e do que Diniz cita.

Dado o desconto, vamos então definir o que seria o “jogo aposicional” de Diniz como oposição ao jogo posicional.
Primeiro: o que Diniz chama de “aposicional” é a mesma coisa que Zezé Moreira chamava de “sanfona” no título carioca do mesmo Fluminense em 1959, e o que o jornalista Pedro Scartin e o treinador Gentil Cardoso apelidaram de “toque de bola” no fim da década de 1950, após o Brasil vencer sua primeira Copa do Mundo. É o que a CBF, no primeiro estudo acadêmico sobre o tema, chamou de Jogo de Mobilidade em 2021.

Essa forma de jogo parte da a ideia de ter sempre muitos jogadores perto da bola. Não importa onde esteja: a zona da bola é a principal do campo e os jogadores possuem liberdade inverter as posições, desde que estejam próximos da bola. Um exemplo: o Samuel Xavier “troca” de posição com o Luiz Henrique. Um por dentro, outro no lado. Já o Arias resolve não trocar com ninguém, mas se aproxima para gerar ainda mais jogadores próximos do setor.

E qual é intuito de aproximar da bola? Com muitos jogadores próximos, se criam linhas de passe próximas de quem está com a bola para ele TOCAR. E depois de tocar? Os movimentos recomeçam: quem toca se movimenta num setor na frente, cria outra linha de passe e assim vai envolvendo o adversário até chegar ao gol.

Um exemplo claro no Fluzão é Samuel Xavier. Ele se movimenta no setor onde está a bola e cria linhas de passe. Faz o jogo apoiado. Após dar o apoio e receber a bola, ele toca para alguém e aí DEVE se movimentar na frente. Isso faz ele explorar um espaço desprotegido, nas costas do adversário, e receber livre para bagunçar a marcação.

Agora prestem a atenção na semelhança desses conceitos com a Seleção de 1982. Júnior apoia por dentro com o intuito de se aproximar no setor da bola. Junto dele, está Serginho. Apesar de ser centroavante a todo mundo achar que o papel do 9 é ficar parado, ele aqui troca de posição com o objetivo de…aproximar da bola! Assim como Falcão faz.

Júnior tocou a bola. O que acontece? O setor da bola muda. Quem tocou se desloca para ocupar a posição deixada. No caso, Júnior se desloca e avança para a posição originalmente de Serginho, assim como Falcão. E Sócrates, que era o falso-ponta do time, se aproxima do setor da bola. A liberdade existe com uma intenção: ter superioridade numérica. É importante entender que o Jogo de Mobilidade não é simplesmente fazer o que quer.

Outro exemplo é o Flamengo de Dorival. O treinador promove essas trocas com menos aproximações e mais ataques de espaço. Quer um futebol de posse e aproximação, mas com menos cadência e mais velocidade nas costas da defesa. Na imagem, Ribeiro inverte com Rodinei e o Gomes chega no setor da bola (como Arias e Xavier).

Qual é o próximo passo? Ao invés do toque curtinho do Diniz, a bola passa e quem está na frente tem que correr e se antecipar. Algo que fica mortal com Gabigol, Pedro e principalmente as diagonais de Arrascaeta. Renato Gaúcho, outro técnico dessa ideia muito brasileira, também promovia essas trocas posicionais.