Dando continuidade à série de entrevistas com os candidatos à presidência do Fluminense, do NETFLU, nesta quarta-feira, publica a conversação com Mário Bittencourt, advogado, vice-presidente de futebol do clube entre 2015 e 2016. A entrevista segue os mesmo moldes das anteriores com Cacá Cardoso, Pedro Abad, Celso Barros e Pedro Trengrouse, que não é mais candidato. Todos responderam às mesmas 13 perguntas e não tiveram limite de tempo para responderem a cada questão.

Clique aqui e confira as entrevistas com Cacá Cardoso (Parte I e Parte II), Pedro Abad (Parte I e Parte II) e Celso Barros (Parte I). Em breve publicaremos a segunda parte das entrevistas de Mário e Celso.

 
 
 

 

1 – Quem é Mário Bittencourt?

Sou um tricolor apaixonado, nascido em um bairro na Zona Norte do Rio de Janeiro, frequentador do Maracanã. Sócio do clube há mais de 20 anos e que há 18 aceitou o desafio de ser estagiário do clube quando se encaminhava para a terceira divisão naquele momento.

2 – Quando e como começou a sua ligação com o Fluminense de maneira mais ampla, ultrapassando a questão das arquibancadas?

Quando me tornei estagiário do clube, há 18 anos. Dentro do Fluminense, fiz minha história como profissional. De estagiário me tornei advogado, passei a ser contratado pelo clube através do meu escritório e atendi o chamado sempre que fui solicitado para estar no departamento de futebol, como na arrancada contra o rebaixamento, em 2009, e na saída da Unimed, em 2014. Toda essa experiência será utilizada em prol do Fluminense para que façamos uma gestão vencedora.

3 – Quando surgiu a ideia de ser candidato à presidência do Fluminense?

Tenho esse sonho desde criança. Tenho uma história de amor pelo Fluminense. Sou sócio há mais de 20 anos e tive o privilégio de trabalhar para o clube nos últimos 18 anos. Conheço cada esquina, cada departamento das Laranjeiras. Trabalhei com os três últimos presidentes em seis gestões e conheço os problemas, os anseios dos sócios, dos funcionários e dos torcedores. Tenho ao meu lado o Ricardo Tenório, que também tem uma grande história no clube, e gente como Carlos Alberto Parreira, que acreditou em nosso projeto. Tive grandes vitórias como advogado do clube, como em 2013, no caso da Portuguesa, em 2009, no caso Jefferson, quando o Vasco perdeu seis pontos e o Fluminense foi para a semifinal do Carioca, em 2008, quando conseguimos o reconhecimento do título estadual de 2002. Todas as vezes que o futebol esteve em dificuldade, nós fomos chamados. Em 2009, naquela linda arrancada, e em 2014, com a saída da Unimed e quando todos falavam que o clube iria fechar as portas, mas nós provamos que o Fluminense é maior que os problemas. Agora queremos começar o trabalho do início. Por isso tudo, acreditamos que merecemos essa chance de fazer o Fluminense o mais organizado e bem-sucedido clube brasileiro.

4 – Como avalia a gestão no futebol nos últimos seis anos?

Na primeira gestão, tiveram algumas coisas ótimas, outras de regulares para boas, especialmente nas finanças. Na segunda gestão, me decepcionei em muitos aspectos, principalmente neste período eleitoral, onde vimos a máquina do clube ser usada de forma eleitoreira.

5 – O Fluminense já revelou diversos atletas olímpicos de capacidade reconhecida. Entretanto, de uns anos pra cá, algumas modalidades olímpicas foram tiradas do clube, como o futebol feminino e o basquete. É tão complexo assim manter um clube grande, assim como o Tricolor, na vanguarda dos esportes olímpicos também?

Tem que haver um trabalho muito forte, de busca de receita e investimento utilizando a Lei de Incentivo ao esporte. É um trabalho árduo de recuperar essa história que o Fluminense infelizmente deixou a desejar nos últimos anos. Além de darmos atenção às instalações do clube, que não receberam o devido cuidado nos últimos anos, temos que revitalizar as modalidades. Temos que fazer que o Fluminense volte a ser competitivo nestes esportes. E podemos fazer muita coisa com a Lei de Incentivo ao Esporte. O caminho para resgatar nossa riquíssima história nos Olímpicos é esse.

6 – Com a construção do CT, teme-se um abandono da sede social do clube que, para muitos sócios, precisa de reformas urgentes. O que pode ser feito para que o espaço seja mantido dentro daquilo que se espera para um clube da magnitude do Fluminense?

Revitalização da sede. Entendemos que a sede precisa de reparos. Queremos utilizar as Laranjeiras para os jogos das divisões de base, aproximando nosso torcedor de nossos futuros craques. Além disso, queremos fazer um Museu em nossa sede, onde o tricolor possa conhecer de perto a nossa história vitoriosa. Quando eles forem até a nossa sede para assistir aos jogos da base, poderão também conhecer o museu, almoçar no Bar dos Guerreiros. Pretendemos manter os treinos dos profissionais nas Laranjeiras na véspera dos jogos importantes, dos clássicos. Vemos de maneira muito positiva o elenco receber essa energia positiva de nossa torcida. No social, precisamos retomar algumas coisas tradicionais como os bailes de gala, precisamos também de uma piscina nova para a diversão dos sócios, um ginásio poliesportivo para o Fluminense sediar suas competições, criar um salão de jogos, que é algo muito importante para um clube social. Mas para isso temos que assumir a gestão e ver o que pode ser feito, fazer um estudo real.

7 – Pedro Antônio disse que nunca cobrou nenhuma taxa Selic ao Fluminense. Também ressaltou que o clube nunca pagou os juros acordados no contrato. Como essa relação entre o dirigente e o clube pode ser ainda mais otimizada na sua gestão?

Primeiramente precisamos saber a real situação entre Fluminense e Pedro Antônio. O que foi acordado entre a atual gestão e o dirigente para podermos pensar em aperfeiçoar essa relação. Ainda não foi passada para nenhum candidato a situação financeira do clube, o quanto está devendo ao Pedro Antônio. Ele é uma pessoa importantíssima para a história do clube e temos interesse, sim, em estreitar e trabalhar com ele. Ele disse que caso a gente vença a eleição, vai querer conhecer os projetos para poder ajudar.

8 – É possível pensar em estádio próprio ou utilização das Laranjeiras para jogos de pequeno porte no Rio de Janeiro?

Como disse na outra pergunta: primeiro temos que assumir a gestão e ver o que pode ser feito nas Laranjeiras. Temos planos, mas antes precisamos fazer um estudo. Sobre o estádio próprio, qualquer candidato que se propõe a fazer um estádio e quer ser eleito como presidente do Fluminense precisa falar a realidade para o torcedor. Nós temos um projeto real de estádio. Aquilo pode acontecer, porém não é simples, não é fácil. Por isso que antes de ter o projeto a gente contratou um estudo de viabilidade. Demanda tempo e investimento que precisa vir de fora do clube.

9 – Fala-se muito de Xerém como fundamental para o futuro do clube. Entretanto, entende-se que a última revelação top fora o lateral-esquerdo Marcelo, vendido ainda na década passada. A base do Fluminense é mesmo tão boa quanto o torcedor acredita que seja?

O Fluminense sempre foi um clube formador. O torcedor deve se orgulhar do trabalho da base, sim. Mas isso não significa que não teremos trabalho. Pelo contrário. Acredito que o Fluminense precisa investir mais em suas categorias de base e vou fazer que seja obrigatório que a venda de qualquer atleta do clube reverta um percentual para a formação de novos talentos. Precisamos garantir um ciclo virtuoso, reinvestindo em nossa base sempre. Nosso plano é modernizar, através da Lei de Incentivo ao Esporte, o Vale das Laranjeiras, equiparando com o que vamos ter no CT profissional, na Barra. Além disso, queremos dar uma independência operacional para Xerém, mantendo os profissionais extremamente capacitados que lá estão. Vamos investir mais no setor de captação, criar uma vice-presidência para o futebol de base e promover uma maior integração com o futsal. Nossa intenção é a de fazer um Fluminense ainda mais forte, e não só para os próximos três anos.

10 – O marketing talvez seja a área mais criticada dentro do Fluminense. Qual é a sua opinião sobre aquilo que foi feito nos últimos seis anos na pasta e o que pretende fazer para mudar ou complementar o trabalho desempenhado?

Precisamos começar de novo no marketing. Temos que tentar implementar uma nova filosofia, baseada no relacionamento com o torcedor e na sua fidelização. O pilar do nosso marketing deve ser esse, já que estamos muito distantes do torcedor. Antes de lançarmos nossa chapa, desde abril, nos encontramos com mais de 600 tricolores e essa foi uma das maiores queixas que recebemos. É preciso, antes de qualquer coisa, reformular nosso programa de sócio futebol. Hoje esse sócio recebe apenas a opção de comprar ingresso para os jogos. E um clube do tamanho do Fluminense não pode ter um projeto de sócio exclusivamente ligado a jogos. Temos inúmeros exemplos de que o torcedor pode e deve ter outras facilidades, como participar de ações de marketing, ter desconto em produtos oficiais, em outros produtos. Aquele sócio que não é do Rio, vai aderir por qual motivo? Ele não consegue ir aos jogos, não terá a chance de votar pela internet, não tem um benefício sequer. Precisamos criar caminhos onde o Fluminense possa ter sua marca cada vez mais exposta, atuante, mais vendida.

11 – Qual é a sua opinião sobre contratos assinados, de atletas, funcionários ou acordos em geral (TV, patrocínio e etc), que extrapolem a gestão vigente?

Os candidatos não têm acesso as informações financeiras. Não sabemos quanto efetivamente falta pagar para terminar o CT, quanto falta pagar para comprar o Samorim, quanto custará os dois atletas equatorianos que estão com pré-contrato, se a atual gestão já recebeu as luvas do contrato da TV, entre outras coisas. É de extrema importância que o próximo presidente tenha conhecimento do cenário que o espera no próximo triênio.

12 – Os grandes críticos da atual gestão têm o futebol como o calcanhar de Aquiles do Peter Siemsen. Você acha que os resultados condizem com o planejamento? O que foi feito de certo e errado desde a ruptura com a Unimed nesse sentido?

Esse é um assunto que dominamos muito bem, pois eu e Tenório fomos convocados para o futebol do Fluminense no período da saída da Unimed. Ele ficou até maio de 2014 e eu assumi, permanecendo como vice de futebol até fevereiro deste ano. Foi difícil, pois perdemos 13 jogadores, muitos titulares, como Conca, Sobis, Bruno e Carlinhos. Mas, mesmo com toda a dificuldade, conseguimos renovar com atletas importantes como Fred, Cavalieri, Jean e Gum. Antes de começar a temporada de 2015, tínhamos poucos dias em dezembro para contratar, pois o time viajaria para a pré-temporada nos Estados Unidos, em janeiro. Não tínhamos dinheiro para repor as peças que perdemos e fomos fazendo algumas apostas. Em 2015, o resultado de campo não foi bom, isso é inegável. Mas deixou uma base que agora está disputando o Brasileiro na parte de cima da tabela, com possibilidade de classificação para a Libertadores.
O Fluminense precisa ser forte, independente e protagonista antes de qualquer coisa. A nossa tradição, nossa história, precisa ser valorizada. Tenório e eu provamos que o futebol do Fluminense sobrevive sem a Unimed. Infelizmente, depois da minha saída do departamento de futebol, perdemos um ídolo. A saída do Fred foi muito ruim para a instituição. Quando renovamos o contrato do Fred, o projeto era semelhante ao do Rogério Ceni, no São Paulo. Se cumprisse todo o contrato, o Fred faria dez anos de Fluminense e seria transformado no grande ídolo da história do clube na era moderna. A saída dele fez com que o Fluminense perdesse muito mais do que um artilheiro.

13 – Quais mecanismos podem ser usados para evitar uma espanholização do futebol? No próximo ano, Corinthians e Fla, por exemplo, receberão três vezes mais do que o Flu. Como pretende gerar mais receitas para o clube?

Obtendo mais receita. Tentando renegociar os contratos da televisão. Pelas informações que temos, eles já estão negociados pelos próximos anos. O Fluminense já assinou o contrato. Caso a gente vença, Ricardo e eu teremos que avaliar as cláusulas contratuais para ver se o Fluminense tem como mexer nesses percentuais. Se não tiver, vamos criar outras fontes de receita, como a melhora do ST, que tem um modelo defasado, a busca de um patrocínio máster condizente com o tamanho do Fluminense. E lá na frente renegociar as cotas e tentar um modelo melhor, que entendemos que seja o da Liga Inglesa.