(Foto: Mailson Santana/FFC)

O diabo nos recebeu com uma risada. Era seu dia de glória. Jamais um clube daquele tamanho havia batido no inferno.

Esfacelados, humilhados, olhamos em seus olhos e nada falamos. Quando – às gargalhadas – falou para que nos ajoelhássemos, nos mantivemos de pé, como que avisando que aquele não era nosso lugar.

 
 
 

Minimamente refeitos, nos livramos das cinzas e o largamos pra sempre.

Pouco tempo depois do inferno da terceira divisão, vencemos três campeonatos nacionais e jamais descemos novamente os degraus para o umbral do futebol.

Como num enredo de filme, passamos por bons e maus momentos. Ganhamos partidas memoráveis, levantamos algumas taças, nos posicionamos novamente como gigantes, atravessamos as tempestades causadas por presidentes inconsequentes e despreparados.

Batemos na trave numa Libertadores sofrida, recomeçamos várias vezes.

E recomeçaremos tantas quantas forem necessárias.

Porque a marca histórica do Fluminense é a imortalidade. Ninguém chegou no fundo do poço como nós chegamos. E isso, ao contrário do que pregam nossos detratotes, é de uma beleza absoluta, se pensarmos na improbabilidade da retomada.

Poderia exemplificar falando de uma dezena de jogos, inclusive da última decisão, na qual fizemos 4×1 num incensado Flamengo, cuja folha salarial é inúmeras vezes maior que a nossa.

Não preciso.

Basta lembrar do primeiro jogo contra o Inter.

Mal escalado, com uma arbitragem desastrosa e 2×1 de desvantagem no placar, jogando com um jogador a menos.

Não fosse o Fluminense e a fatura estaria liquidada a favor dos gaúchos.

Mas éramos nós.

Ali havia a grama de laranjeiras, a água de Xerem, a alma de tantos tricolores que forjaram nossa Arquibancada, a vocação para a eternidade, decodificada por Nelson Rodrigues. Ali também estavam Assis, Washington, Castilho, Careca do talco, Armando Giesta e tantos outros que jogaram e torceram.

Não me surpreende o roteiro desta Libertadores. Ao contrário. Na Hora em que essa campanha virar filme – e vai virar! – vamos olhar com orgulho para a dificuldade que encontramos no Maracanã.

Só quem não entende nada de Fluminense poderia esperar 3×0 na ida e 1×1 na volta.

Não é assim que funciona.

Não conosco.

Nosso time quer. Nossa torcida quer. E quando isso acontece, querer vira verbo intransitivo.

Há uma coisa que o torcedor tricolor pode fazer de hoje até amanhã: cerrar os lábios e confiar.

Confiar num time que é melhor que seu adversário. Confiar numa camisa que ao longo de sua centenária história já se mostrou capaz de ridicularizar profetas e profecias dos especialistas de ocasião.

Nosso caminho até aqui foi bonito.

Mas pra ser Fluminense tem que ser mais que isso. Tem que ser duro, difícil.

Diniz e o bom time colorado trouxeram essa dificuldade. Que será a tônica da partida de amanhã.

Tudo conforme pede o enredo dessa conquista que se aproxima.

Amanhã é a hora do recorte poético, da trilha sonora pesada, da dor da dúvida e do grito libertador.

Assim será.

Vamos tricolores. Chegou a hora.

Quanto ao diabo, que, como disse, jamais nos verá de novo, eu tenho certeza de que dessa vez ele não entrará na mente de nosso treinador.

Porque essa taça irá para Laranjeiras.

Confia, FLUMINENSE!